segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O troglodita



Xexeu (pai): Filho de rapariga, cala essa tua boca! Pára de chorar, seu filho de rapariga!
Bebê: Hummmmmmmm...AAAAAAAAAI...!(Abre o bocão)
Xexeu: Caladooo! Senão vai apanhar! Vai levar porradaaaa! Eu já num falei pra parar, filho de quenga ruim!
Bebê: Pai, quero almoçar! Tou com fome.
Maria (mãe): Bebê, tome o seu almoço; tá aqui. Coma!
Bebê: Mãe, depois posso ir brincar?
Maria: Pode, filho!
Xexeu: Nãoooo! Só brinca se comer toda a comida!
Bebê: Papai, vou comer tudo, o senhor vai ver.
Xexeu: E se não comer, vai levar um safanão bem nas ventas.
Bebê: Tá bem, papai. ( o menino come tudo)
Xexeu: Já vou, mulher; preciso trabalhar senão a coisa fica feia nessa joça. (sai feito um doido)


À noitinha
Xexeu: Cadê minha janta? Ainda não fez, sua fdr? É porque não é tu que fica até agora trabalhando! Chego leso de fome e o fogão tá apagado.
Maria: Calma, amor! Vá tomar o seu banho, que já apronto.
Xexeu:  Calma, é? Se fosse tu, aí eu queria ver se dizia calma!
Maria: Calma, home! Já...já  tá pronto!
Xexeu: (sai do banho, a mesa está posta) Não aguento mais, tou
brocado de fome.
Maria: Tá tudo pronto; é só comer. Parece que vai morrer...tá esganado, é?!
Xexeu: Caladaaa! Só eu sei o que passei naquele inferno de trabalho!
E chegar em casa, nada feito; a mulher só de boa. Cala essa tua boca, senão vai
levar uma mãozada!   
Maria: Tá bom bem, não está mais aqui quem falou! (sai de perto)

No outro dia cedo.
Xexeu: Põe meu café, já tou atrasado.
Maria: Tá na mão! Vai querer suco? Se quiser, eu faço.
Xexeu: Vou, e tu sabe que sim.
Maria: Bem, arranja um dinheiro que vou fazer umas compras.
Xexeu: Quando eu voltar; mais tarde eu te dou.
Maria: Tá bem.
Xexeu: Tou indo. (sai correndo)

Ao meio dia.
Maria: Tá na mesa o seu almoço.
Xexeu: Assim é que eu gosto!
Maria: Benzinho, vai me dar o dinheiro?
Xexeu: Mais é interesseira! Quando é pra pedir dinheiro, é tudo a tempo e a hora.
Maria: Não é verdade. Deixe de ser ingrato! Faz dez anos que faço tudo pra ti com maior  carinho e amor. Vai, me dar logo a grana!
Xexeu: (saca uma nota de $100,00) É isso que tenho, outro dia dou mais.
Maria: Benzinho, isso aí não dá pra comprar quase nada! Tou precisando de sapato,  calcinha, e outras coisinhas.
Xexeu: Se não quer esse, me devolve. Eu já te disse, que vou te dar mais outro dia.  
Maria: (guarda a nota no seio) Você  nunca tem pra mim, mas pro bar o bolso tá cheio.
Xexeu: Não é minha a grana?! Tá achando ruim, dê seus pulos.
Maria: É o que tenho de fazer mesmo! Vou vender Avon. Faturar o meu próprio dinheiro.
Xexeu: Isso lá dá dinheiro! Só não quero que amanhã ou depois, eu tenha que pagar as tuas dívidas.
Maria: (nem responde  e sai)
Uma semana depois
Maria: Amor, olha aqui, o meu kit de venda: Catálago: amostras dos perfumes... Ei, tá tudo pronto aí; o seu almoço tá em cima do fogão. Tchau, vou na casa da Vera, mas volto logo; vou ver se vendo alguma coisa.
Xexeu: Como é a história? Tu não vai pôr minha comida?
Maria: Tenho que ir atrás das minhas clientes.
Xexeu: Pois fique pra lá com elas e não volte mais. É, porque eu não quero mulher que não cumpre com as tarefas domésticas!

Maria: (a mulher dá às costas e sai assim mesmo).
fim   


Qualquer semelhança é pura realidade!
De acordo com o site R7.com, 56,8% dos brasileiros vivem com o salário mínimo. Essa é a pura realidade dos jovens casais brasileiros. Jovens que não estudaram e se matam de trabalhar pra sustentar suas familias pra o patrão enricar.
Inspirado num  jovem casal de vizinhos meus aqui do Bessa. Não dá pra acreditar que uma mulher viva uma situação horrenda dessa em pleno século XXI. Mas, o que fazer quando fizera a pior escolha, casar quando não tinha estrutura de vida?O pior é que o casal tem dois filhos e vivem nesse mundo de maus-tratos.
Quando eu tinha 19 anos, não havia acabado o colégio, recebi um convite de casamento (com flores e bombom) de um rapaz chamado Rui. Ele era tudo que uma moça poderia querer; um amor de rapaz! Trabalhava na prefeitura de João Pessoa. Acabei o namoro na hora, pois aquilo não era o que eu desejava. Não queria esse tipo de vida pra mim. Lembro como se fora hoje, ele chorou muito no portão de casa.  Tive muita dó. Mas, menos mal. Ele foi namorar a Cleide, minha vizinha.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Resenha: Amor que se mede


Poemas Incidentais e Confissões Intimistas
Autor: Vicente Alves
Edição do autor
Brasília/2008

“Abriu o peito
 em plena praia
             e expirou
 litros de ternura
  na direção
 do vento.
Foi tanta
que as folhas dos coqueiros
  cantaram e dançaram
a valsa do momento.” p. 88

A obra, em foco, trata-se de estilo autoral, ou seja, revela o amor sentido e contido no peito do autor.
O Amor é a tônica, e salta aos olhos de qualquer leitor:
“...Eu vivia sozinho  sem amor
Levava a vida em existência crua
Carpindo sempre a amargura e a dor
Palpando solitário a alma nua.”p.108

O aspecto intimista é recorrente em todo livro. O poeta se derrete todo nas chamas desse belo sentimento.
Ah,  o amor!
“Vi que era tua toda a minha vida
Vi que a minha alma à tua pertencia
Teu seio eu confiei perdida”p.111
Em sonhos, vai à loucura
“É um pesadelo atroz e ansiante
Sonhar beijar-te os lábios com
                                       loucura
E acordar sentindo-te distante.

Outra vez dormir, voltar a sonhar
Beijando a tua boca com ternura
De novo desvairado despertar.” p.115

À moda romântica, como todos os contemporâneos da tal escola, o poeta não cabe em si. O cálice transborda de beijos, carícias, sonhos e revirar de olhos para a delícia do seu leitor.
“Na tua boca eu bebo o doce mel
Que até então me foi sempre negado
E te beijando esqueço o amargo fel
Que por capricho os meus me têm legado.” p.122

É flagrante nos versos, o exagero.
“No nosso quarto
 a penumbra
eu e tu: o nosso amor
puro sem pejo sem pudor.
Tua voz sonante me pergunta:
querido, estás feliz?
e eu: sim, amor,
demais...demais...” p.123

Vale ressaltar que, tantos devaneios, peculiares a todo romântico, não tornaram a obra piegas. Muito pelo contrário, mostra apenas o despojamento e a sensibilidade do escritor.

De resto, quero deixar registrado que acredito no amor; e acrescento mais, respeito àqueles que encontraram o seu amor, pois sei o quanto é difícil. O Amor existe, e a prova está nos Poemas Incidentais e Confissões Intimistas, de Vicente Alves.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Resenha: Livro água e pedra



Funerais da fala
Astier Basílio
Editora Universitária
João Pessoa/2000
                                      
                                       “Que o poema vos seja como o vento:
                                       alado e fluido mensageiro
                                       do seu feliz deslumbramento” Vanildo Brito

O livro Funerais da fala, de Astier Basíio, é uma das obras vencedoras do Prêmio Novos Autores Paraibanos; V versão – 1999/2000 – categoria Poesia, promovido pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
Palavra a palavra o requinte no estilo. Nos sonetos, o poeta verbaliza todo encanto. Sua lírica, sua fala. O autor fala alto aos corações mais desdenhosos. Esmero de forma. As rimas ricas contemporizam o leitor mais distante. 
A obra divide-se em duas partes: a primeira: O Livro das águas dos espelhos e a segunda: O Livro das pedras.
Nos seus versos, a beleza da palavra lapidada como uma joia rara. Vale, então, conferir:
            "uma úmida luz de abril revela
             os vestígios do mar que  em sonhos galgas
             com o vinco de tua voz em vela
              na ranhura indecisa destas algas" p.26
          
            “Foi um raro de azul imaginado
             talvez sobre o que for praia do conde
             tu vieste...num verso ...feito o nado
             da manhã que o sol transforma em fronde"P. 27

A poesia enleva o coração sensível; a do escritor Astier Basílio vai mais além, nutre, substancialmente, com suas epifanias às vis existências.

Outras obras do autor: Sonetos soltos no vento-1997; Sete sonetos de amor- 1998; A viola de Zé Maria-1998; Altharrabio-1999;Baião de 2-1999.

Concluo, enfim, desejando uma excelente leitura para todo leitor que por ventura venha ter essa maravilhosa obra em mãos.




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Mito do Narciso às avessas



O Lado Escuro do Espelho/Contos
Escritora Maria José Limeira
UNIGRAF – União de Artes Gráficas Ltda.
João Pessoa- 1985
“Sou uma sombra, venho de outras eras
Do cosmopolitismo das moneras
Pólipo de recônditas reentrâncias
Larva do caos telúrico procedo
Da escuridão do cósmico segredo
Da substância de todas as substâncias!”
Augusto dos Anjos
A obra O Lado Escuro do Espelho, da autora Maria José Limeira, é constituída por onze contos bem estruturados e conectados por uma linha hilária do ser: a banda podre da maçã.
O mundo fictício transfigura todo torpor, no qual o narrador transfigura o amargor de experiências vividas na pele de um ser multifacetado por diversos ‘eus’ fúnebres, que desagua em inúmeros ‘tus’ horripilantes.
A escritora retrata o lado oculto das entranhas do ser humano. Sem parcimônia, rasga o véu fétido, desvendando o obscuro das fraquezas, egoísmos, histerias, vilanias humanas.
Ao contrário do mito de Narciso, poder-se-ia considerar sua outra face: o Anti-narciso. Já que é enfatizado o lado torpe do ser; observado, nos vários recônditos dessa escritura, a sordidez inexplicável das personagens.
Em várias passagens poder-se-á verificar: “Eu venho aqui, senhores, depositar a minha vida. Neste cartório geral de registro de títulos e valores, deixo em legado que pesa com a sombra de um vampiro em noite de lua cheia.” P. 11
“Trago o peito despedaçado e o riso amargo.(…) Quatro paredes lavradas no sangue do entardecer me devoram.” P.13
“…eu sou o criminoso sem lei, a casa vazia invadida pelas cheias, a terra devastada pela seca, o lixo que se acumula nas consciências, a falta de consciência, a cadeia e a liberdade, o animal perigoso enjaulado…o tiro inexplicável soando na madrugada, o transeunte desocupado, a mulher desejada, o sonho esmagado, a santa mãe sacrificada, o poço dos anseios frustrados, caos, a desordem generalizada, o grito que ressoa dentro da noite como alerta aos desavisados, o astronauta solitário, o planeta Terra isolado, a miséria humana estampada, terror, bruxaria, desespero e desolação, eu sou. ” p. 20
“…O canto de dia vem me encontrar onde as formas se dilaceram como monstro indormidos.” p. 24
O espelho narrativo reflete a parte horrenda do indivíduo. Aquele vão que toda pessoa faz questão de esconder, e que, nessa escritura, a autora exaspera-se ao retirar de suas máscaras, expondo-as ao escárnio e ao apedrejamento.
Enfim, O Lado Escuro do Espelho, de Maria José Limeira, trabalha a grande metáfora humana; o espelho ilumina o mito do Anti-narciso. Porém, em grande estilo, a banda podre é exposta numa bandeja de ouro.