Livro:
Sob o amor
Escritor:
Antônio Mariano
Editora:
Patuá
São
Paulo:2013
Amo como ama o amor. Não conheço
nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que
te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? (Fernando Pessoa)
O Amor, no mundo
atual, é mera ilusão. Um mundo movido pelo dinheiro que não tem lugar para o
amor - esse sentimento doce e singelo. Hoje se ama o material, isto é, tudo que
o dinheiro pode comprar. Daí, a sede ser de consumo. As pessoas se
materializaram de uma forma que pensam que ser feliz é se empanturrar de
objetos. Vivem atormentadas pelo ter mais e mais. Não existe lugar para o amor!
Quanto mais se tem, mais se quer! As pessoas são medidas e pesadas pelo que possuem.
É a tal era do vale pelos dentes como burro! A pessoa humana vale pela bunfunfa
na conta bancária. A vida é movida pelo dinheiro. Portanto, há exasperação pra
consegui-lo; inclusive, a todo custo; custe o que custar. Não existem regras
para sua obtenção. Muitos roubam, matam, passam por cima de tudo e de todos.
Tipo rolo compressor; se for pra se dar bem. Vale tudo. O ser humano se
emporcalhou! Come no mesmo cocho, literalmente. Imbecilizou-se no afã das suas
vaidades fagueiras por causa das suas fraquezas.
Entretanto, o poeta
Antônio Mariano, com a publicação do seu livro Sob o amor, vem contrariar toda
essa lógica espúria, que só animaliza o ser humano. Essa avalanche de fatos que
diminuíram tanto a pessoa humana é conjecturada de modo inconteste na sua obra.
É uma prova cabal de que nem tudo está perdido. Que existe uma luz no final do
túnel. Na obra, é mostrado que há uma fagulha de amor guardada, a sete chaves,
dentro do ser. À página 26 pode-se ver claramente a sua tese “Pretende
juntar-se/ à profissão de pássaros,/ responder processos/ pela criação dos
anjos,/ meu amor por ti.// Meu amor por ti/ reabre a inquisição." A
sensibilidade de tais versos remete à uma outra realidade bem distinta daquela
que se vive. O link aberto se arrasta pra outra janela de pensamento, desviando
o enfoque pra um sentimento antigo mais que dois mil ano atrás: o amor. Aquele mesmo que Cristo nos deu, de bandeja, na cruz. O poeta
não pára por aí, à página 29 vai mais além “Quando se vai amar,/ as teorias
fora do quarto.// Como as sandálias/ ficam
esquecidas/ à porta do banheiro/ senão molham-se ou sujam." Tais versos
suscita, então, o despojamento no ato de amar, já que para amar é necessário
pureza de coração; todas as teorias caem por terra.
Clarice Lispector, em
seu livro Uma Aprendizagem Ou O Livro dos Prazeres, à página 39 diz: “A mais
premente necessidade do ser humano é tornar-se ser humano”, o poeta Antônio
Mariano resgata em Sob o amor esse ser humano cogitado pela escritora. O Amor é
a semente profícua do ser humano.
Finalmente a obra, em
foco, tem toda uma estética modernista com uma forma solta e ritmada à vontade
do autor. E, cala fundo toda beleza humana, pois é pura lição de vida pra
todo aquele que a lê. O autor impõe a sua marca registrada de pessoa que
está acima dos padrões estabelecidos na sociedade contemporânea. Contundência é o
que não lhe falta; na sua argumentação é categórico, fechando com chave de ouro
(‘Somente o amor salva o homem’), no seu canto XXXIX enfatiza, à página 67 “Ou
o mundo não passa mesmo/ de uma grande boca/ que ao prometer um beijo,/ temos o
dia, negando-o em seguida,/ ei-nos a noite?
Parabenizo o Poeta
Antônio Mariano por tamanha singeleza e desprendimento ao expor o que está encerrado no seu âmago!
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