quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Resenha: Há crônicas e crônicas


Livro: A Idade do bobo
Autor: Chico Viana
Editora: Ideia
João Pessoa/2010


"A Vida é maravilhosa se não se tem medo dela" Charles Chaplin


O livro A Idade do Bobo, do escritor Chico Viana conseguira uma façanha: prender-me à leitura de crônicas! Nunca fui afeita a esse gênero literário. A não ser na época de escola, quando se lia forçado às crônicas dos mestres: Fernando Sabino, Rubem Braga, e Paulo Mendes Campos. Tal livro é muito interessante. E também, bem humorado, desde do seu título. O autor usa e abusa do humor; o trocadilho é um recurso retórico poderoso na sua obra. Quando faz a troca da palavra 'lobo' por 'bobo', jogando com as palavras, dá todo um tom ameno ao enfoque. Ainda mais, quando esclarece: "O lobo corre, vai à caça. O bobo fica, reavalia seus sonhos, alvos e projetos, questiona os fatos vividos e os fatos hodiernos; compara valores antigos e valores atuais e questiona uns e outros, inclusive a existência humana."

De fato, bem estratégico, na vida, é saber trilhar  o seu caminho; por pior que seja! Todo cuidado é pouco! Esse bobo está mais pra filósofo. Condição necessária de todo aquele que raciocina e queira sobreviver. O lobo se metamorfosea no bobo pra safar-se das agruras do dia a dia. Nada mal!

Além disso, contundente é que o autor dá a esse 'bobo' todo um valor humano e potencialidade de talentos, mostrando toda sua bagagem sensível e intelectual. É como que a cada texto ele fosse se revelando. Sua capacidade é tamanha que atrai pra si toda tensão narrativa. E não custa muito a revelar-se num expert, tanto nos assuntos triviais quanto políticos, financeiros, sentimentais, afetivos e até religiosos. Crônica a crônica ele se empodera de um caráter peculiar dos homens com H. Um autêntico gentleman.  O bobo se personifica nesse homem tão escasso na face da terra. O homem que toda mulher quer na sua vida! Um  Homem com H maiúsculo pra compartilhar  os bons e maus  momentos! 

Vê-se, abaixo, todo o foco narrativo em:

(p.11) A namorada
Nós brigávamos muito. Os amigos nos viam mais afastados do que juntos, e quando encontravam um dos dois a primeira pergunta que faziam era: "Vocês ainda estão namorando?" (...) Ficávamos um tempo sem nos ver, e nesse período eu lhe mandava cartas. As cartas eram uma tentativa de explicação, um meio de pedir a ela que me perdoasse.(...) Dias depois nos reconciliávamos por entre beijos tórridos e juras eternas... (...) à p.13, ...Não sei se perdoei  de todo aquela namorada.Às vezes acho que me casei com ela por uma espécie de vingança.

(ps.108/110) Palavreando
(...)
A leitura é um vício diferente dos outros. Causa independência.
                    ***
O vazio metafísico dói menos do que o do bolso.
                    ***
Sou de um tempo em que filme de mulher pelada era filme de freira.
                   (...)
Uns entram nas academias para conquistar a imortalidade. Outros, para confirmar que estão mesmo mortos.
                    ***
Foi professor, morreu pobre. Mas teve ao menos uma vida de classe.

(p. 125) Novos pecados
(...) O pecado é uma transgressão individual. Tem a ver com a alma, não com as ações coletivas. Os chamadas crimes sociais refletem a desobediência  a prescrições que já existem. A principal delas  é "Ama a teu próximo  como a ti mesmo", que Immanuel Kant formulou em nível prático como "Não faça aos outros o que não queres que te façam". 

Enfim, essa obra  A Idade do bobo-crônicas veio pra ficar na história! Bom, pelo menos na minha história, ela ficará para sempre. Pois, fora ótima pra fugir à regra que eu não gostava de crônicas! Portanto, uma excelente Leitura com L maiúsculo!

4 comentários:

  1. Obrigado pelo texto arguto e extremamente simpático à obra. Como autor do livro, sinto-me gratificado pelo reconhecimento que ele representa e encorajado a prosseguir. Abraço!

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  2. Muito legal o seu feedback, Chico! Eu é que estou gratificada por ter essa acolhida! Beijão pra ti e família.

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  3. Conheci os textos de Chico Viana à pouco tempo e adorei. Ainda não o conheço pessoalmente, mas é como se fosse um amigo... Parabéns pelo seu texto e seu blog!

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