quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A la Leonardo da Vinci




O Coqueiro, a castanheira e o cacto

A Castanheira vivia, há anos, vizinha de um coqueiro. Sempre fora uma árvore triste e solitária. Nunca ninguém a visitara. Já o seu vizinho, muito ao contrário, era arrodeado de gente. Certo dia, a Castanheira não se conteve de tanta tristeza. Largou o pau a chorar. De pronto, o Coqueiro  se sensibilizara:

_ Castanheira, não fica assim! Para com esse chororô. Isso dói meu coração! Você tão linda! A sua sombra dá inveja a todos nós!

Aí, que a Castanheira quase morre de tanto chorar. Os seus frutos ficaram até roxos. As palavras do vizinho tocaram-lhe fundo.

Daí, ela respondeu:

_ Me deixa em paz! Não estou pra muito papo.

 Nisso, um cacto que também ocupava aquele espaço público entrou na conversa, dirigindo -se ao Coqueiro, gritou:
_ Tadinho desse aí, não sabe que a Castanheira morre de inveja dele!

O Coqueiro enrubescera, e sem ação falara:
 _ Ah, amiga Castanheira, ai de mim se não fossem meus doces frutos; morreria sedento; ninguém me daria nem mesmo um copo d’água.

A partir de então, a Castanheira nunca mais se sentira desprezada.


A inveja mata, mas tudo é uma questão de insegurança e incompetência.

O Rei e os ratinhos




A la Fedro II

Papai, titio e vovô
O Rei da cidade chegou.

Off: rsrsrsrsrs

Papai, titio e vovô
O Rei da lábia chegou.

Off: kkkkkkkkkk

Papai, titio e vovô
O Rei da verdinha chegou.

Off:rs...


_Galerinha de camundongos, beleza?!
Aceitam um pãozinho de queijo aí? Na boaaa...!
Aqui tudo é nosso...!Quem é o Rei do pedaço...?!





(Rubricas ‘os malucos belezas, na sua maioria, se acham rei; especialmente aqueles que são mais que balzaquianos e vivem sob as asas da mãe comendo, bebendo e se refestelando nas suas mordomias’)  


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A la Fedro




A Pantera Cor de Rosa
e suas irmãs Cajazeiras
carne e unha; todas elas são formosas
prendadas rezadeiras.

Não têm muito o que fazer
hoje em dia
assim, pregam suas peças; a saída é coser
as mesmas roupas na cortesia.

A Pantera Cor de Rosa a mais formosa
das três; tem um rebolado daqueles
ao caminhar,é aquela coisa
parece instigar os moleques.

As outras irmãs a imitar
porém, são prendadas mesmo em fofocar
quando de visita a irmã, tiram a língua da miséria, botam pra fuxicar
as meninas são ótimas no prosear.

Três donzelas esquisitas
lourinhas, gordinhas e sardentas
caiporas, fofoqueiras e salientes
todas elas sem elegância nem requinte.

Quando estão juntas, o bicho pega bonito
fazem  um mexerico danado
que não dá pra seu ninguém; o pai delas um coitado
um bêbado inveterado; nem a pau  sai do bar do galego seu Benedito.

Bota a conta no prego
coitado do velho! Vive dopado de cachaça
e as filhas a fofocar; todas sem emprego
a vida das Cajazeiras precisa de uma urgente mudança.

A Pantera Cor de Rosa tem planos
quer trabalhar na televisão
engolir prego e gilete; dar pros panos 
na mais utópica ilusão.

Seu intento é fazer sucesso
com as suas irmãs, ganhar dinheiro é preciso
fuxicando e com muita embromação; via online dará acesso
as Cajazeiras irão viver no paraíso.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A la Esopo II




O homem, a águia, o bode, e o pássaro

Um construtor desconhecido concluíra a obra do seu Projeto Morada do sol. Uma vila de quatro aptos. de dois quartos. D. Águia, a sua sócia, surrupiara-lhe a escritura de um dos imóveis na hora da partilha dos lucros da venda. Então, nisso, eu havia me transformado num bode expiatório da história. Tudo porque caíra na lábia da D. Águia, quando comprara um dos aptos. Fora assim que entrara naquele inferno, naquela trama macabra. Fora desesperador! Eu que até aí, não tinha nada com as maracutaias daqueles topetudos. Caíra direitinho em suas armadilhas. Enfiara-me num beco sem saída. Tudo que me vinha do tal homem após isso, cheirava a conspiração para tirar-me do sério e azucrinar- me. Entrei, literalmente, na sua arapuca. Havia gente pra me vigiar dia, noite e madrugada. Filmavam-me como num grande BBB. Talvez um dossiê o bicho estivera preparando pra prejudicar-me. Eu não tinha saída mesmo. Entrara de gaiato no navio. A não ser esperar um milagre. Fora, aí, que um passarinho veio ao meu ouvido e me contara a verdadeira identidade do talzinho. Ele fazia parte de uma rede internacional de tráfico de travestis brasileiros. Inclusive, a mídia local já havia alardeado.   Era procurado pela Interpol. Assim, acabara o meu sufoco. De imediato, fora vascular, na web, todo o currículo dele. Daí, fora constado que o periquito estava mais do que bem informado. Eu não precisaria me preocupar mais com nada. Acionaria a Federal. Resolvido o problema. Enfim, pensei num conhecido provérbio que diz "Depois da tempestade sempre vem a bonança." 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A la Esopo




O Galo Carijó gosta de uma painha
Os seus amigos gostam mais ainda
Daí, os encontros dos ‘amiguinhos’
Todas as noites em sua estanciazinha.

O galinheiro fica pleno de emoção
As baforadas são intensas
O cheiro do haxixe causa, a todos, tesão
A alegria contagia; é imensa.

A curtição é todo santo dia
Tanta é a satisfação sentida
Os pedreses saem do ar na folia
Suas viagens não são contidas.

A D. Pedrês, mulher de Carijó, não quer nem saber
Estraga a festa; chama a polícia
As penas dão até voltas; mas eles vão em cana. Que viver...!
Vale tudo; só não vale envelhecer sem companhia.

Pois tudo passa na vida
Porém, as boas coisas ficam
O Galo Carijó e a paradinha dele são da lida
E o galinheiro do cão...!


A la Fotaine II




O Cordeiro foi imolado
pelas mãos de Pilatos
Barrabás, ladrão, absolvido ali do lado
naquele fatídico ato.

Se até Ele foi crucificado
quem sou eu pra merecer
a salvação dos meus pecados?
quero apenas estar abaixo de Vv. Mecê.

Maria Madalena, Salomé, Herodíades foram perdoadas
de todas  as  impurezas
peço-Te só misericórdia, Pai de todos e todas
(Ó, Cordeiro Santo, misericórdia das minhas fraquezas!)

(Cordeiro, Cordeiro de Deus
piedade de mim, ó Pai!)
sou uma ovelha perdida; mas nunca, jamais fui ateu
tenho muita fé em Deus, e na Virgem-Mãe.

Misericórdia é tudo que desejo
todos nós a queremos. Salvação e viver
está nas mãos Dele; é nosso maior anseio
(Pai divino, a Teus pés clamamos clemência pra nosso ser!)

Ovelha e Cordeiro; Cordeiro e ovelha
Um Pai; outro filho
os rios descem das montanhas
um  norte; e outro, tende às falhas.
 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A la Fontaine




o gato e o rato não ocupam mesmo espaço
ambos se atacam, há embate e embates
são dois bichinhos do babado
não reconhecem suas leseiras
vivem um atrás do outro pra arregaçar
Que bobinhos são, coitados!
Se vão logo,logo pro mesmo buraco!

Gatinho e ratinho são sempre arredios
vão e vem numa boba afobação
estão sempre a esganar um ao outro
pra que essa danação?
talvez porque um é rato; e outro gato
duas coisinhas esquisitas
contaminando-se de estupidez.

Dia a dia é um ato
não repetem ao menos o refrão
são performáticos
plenos  de ódio e azaração
coisa pior acontece
quando traspassam a contramão
comem-se feito uns diabos.

Dizem serpentes e lagartos
gritam todo tipo de palavrão
é aquele barato!
puxam o rabo um do outro
catucam-se entre si
paulada come no centro
arrebentam-se.

Cão chupando manga é pouco
são virados num dindin
esfolam-se que o sangueiro dá na canela
já viram que doideira mais sem pé nem cabeça?
como pode umas coisinhas tão lindas
cassarem-se feito predadores?!
vai ver que é amor.

Aí sim, estão só correndo da sorte
felicidade, pra muitos, é ruim
muitos escondem-se dela feito o bicho ruim
num período de vinte e quatro horas
com o gato e o rato pode ser assim
Quem sabe?!
creio mesmo que a tá infelicidade dá mais sentido.

Vai compreendê-los...!
alegria de uns; tristeza de outros
amizade, sinceridade e convivência
nem sempre são bem quistas
ainda mais porque poucos são os escolhidos
muitos, relegados
isso é bíblico.
  

Não sabemos explicar os mistérios entre céus e terra
ninguém  voltou pra contar o frivrulim do outro lado
como  é que saberemos?
enquanto isso, o ratin e gatin se acabam na porrada
essa estória todo mundo já sabe
não precisa ser contada
porque é de todos  uma surrada fábula.

A  minha vó e tatara sabiam de có
meus  pais e irmãos deram  todo o recado
eu que aqui te falo, já estou até enjoado
de recontar esse fato desses dois tortos
que se quiserem levar isso a frente
façam-me o favor, que façam  bem feito
lavem o gogó  com aguardente.

Com aquele jeitinho brasileiro
de quem come pelas beiras
vá aparando as deixas
tudo só é bom quando flameja, mas não esnobem
que os bichinhos não merecem
o gato e o rato já estão satisfeitos
e nós todos estamos mais que endeusados.

Bichinhos queridinhos do peito
pois é, tudo não passou de sobrevivência
portanto deve ser propalado
fique aqui tudo registrado
pra posteridade, com respeito
gratidão e comiseração
essa é a praxe desses dois bois-tungão.  




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Resenha: À Luz que resplandece


Livro: À Sombra do Soneto e Outros Poemas
Autor: Hildeberto Barbosa Filho
Editora: Idéia/João Pessoa/PB:2011
 
                                
                                         Tenho em mim todos os sonhos do mundo
                                                                                                          Fernando Pessoa
                                                 
                                              
Quão belos são os olhos de uma criança! Que belas paisagens às retinas de um menino! Vê beleza em tudo que mira. Vê beleza em todo canto. E em cada canto, um doce encantamento. O Poeta Hildeberto Babosa Filho, em sua belíssima obra À Sombra do Soneto e Outro Poemas, se desmancha nessa ótica:  A visão simples (e peculiar) de um garoto que a tudo olha com olhos de amor e beleza. Na página 23 toda a meninez: “Guardar no roto bornal da lembrança/a meninice embalada na rede;/esvaziar as moringas do sonho/ e do sonho não matar essa sede.”

Tudo passa por sua percepção: as árvores, o vento, os pássaros, isto é, tudo é captado e, por catarse, explorado na lira que canta; como na p. 25 “Na minha vida existe um Cata-vento/solitário nas léguas da fazenda./Cata-vento que ao sonho dava alento,/quando o sonho se fazia minha tenda." Os sonhos, as fantasias, a imaginação de garoto a embalarem as suas recordações. Vão fundo nos seus Sonetos petrarquianos; como na p. 27 “Não existe fotografia mais bela/ que o verde Umbuzeiro na Caatinga,/estrumada pelo vinho da neblina,/a compor a mais vívida aquarela.

O Poeta é eloquente no versejar. É Forma. É Ritmo. É Metáfora. É Exegese. É Epifania. Exemplo disso, o Soneto Lusitano (p.29) “Ao chover minh’alma é sempre assim:/a melancolia renasce  com as águas/e com as águas parecem não ter fim/como a chuva chovendo suas mágoas.” Ou seja. É tradicional. É Clássico. É Camoniano. Sua verve é calcada nos grandes nomes portugueses. E mais, na poesia do Poeta italiano Petrarca, que se divinizou por sua grande representatividade nos séculos XVI e XVII. À influência de Aristóteles, o legado multissecular de “imitação”, Hildeberto não foge à regra, bebe nas mais variadas fontes. Em Pessoa, Sá Carneiro e Pessanha.  

Hildeberto nasceu em Aroeiras, interior paraibano; a 09 de out. de 1954. Não nega as suas raízes. É um cararizeiro dos bons. Sem contar também que, é jornalista, ensaísta, crítico, professor do Curso de Jornalismo, Relações Públicas e Turismo(UFPB); sócio da API- Associação de Imprensa; ocupa uma das cadeiras da APL- Academia Paraibana de Letras; e é membro da APF- Academia Paraibana de Filosofia e do IHGCPB- Inst. Hist. E Geog. Do Cariri Paraibano.  Além disso tudo, é dedicado à produção literária da Paraíba, com inúmeros livro publicados.    

Enfim, creio que não disse nem a milézima parte do que tal poeta exige, que me perdoem pelo meu  despreparo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A cidade sitiada



Esses dias, caminhando à beira mar, deparei-me com um absurdo dos absurdos. A praia estava tomada por cadeiras e guarda-sóis; tantos que chegavam até bem dentro do mar. Daí, não me contive de tanta curiosidade, quis saber quem era o legítimo dono daquele pedaço de terra pública.
Pois bem, logo dei de cara com um senhor. Um senhorzinho simpático e tostado do sol. Com um sotaque de gringo. Percebi isso logo no primeiro contato. Como eu estava dizendo, dei-lhe bom dia e perguntei-lhe se havia comprado a praia. Falei: Sim, o senhor, deve ter comprado, porque com um absurdo desses; o senhor deve ter até a escritura de posse. Mais que depressa, ele me respondeu que sim; que possuía licença da prefeitura e que estava dentro dos conformes da lei. Perplexa, respondi-lhe que não poderia ser um absurdo daquele. Então, falei-lhe, bem na fuça dele, que não podia fazer aquilo que iria denunciá-lo. Ele tranquilão me jogou na cara: Pode fazer o que quiser, mas estou legalizado.   
Fui embora. Continuei a minha caminhada, conjecturando comigo mesma; com certeza, devia haver alguém na prefeitura se fazendo de ‘bobo’ pra dar licença pra tomarem o que é de direito do povo. Deveria ter recebido uma gorda propina, pois só assim pra tal vexame.
É, mas do jeito que vai a carruagem, não sei onde vai parar! Creio que em pouco tempo, nossa cidade será sitiada pelos portugueses e espanhóis; também com uma crise braba na Europa e as facilidades existentes aqui na nossa terrinha, quem não quer?! Até eu queria! Nós, pessoenses, precisamos tomar tento porque esse povo é muito esperto; e nosso povo não pode entregar de bandeja o que há quinhentos anos fora tomado à duras penas. Fora muita matança! Nossos índios foram extintos na guerra contra esses mesmos que estão voltando com a bola cheia. Daqui há pouco, nós é que seremos expulsos do nosso próprio espaço. As autoridades precisam enrijecer as leis de imigração porque senão o bicho vai pegar! E nossos parcos empregos irão pras cuscuias! Uma porque, a maioria deles vêm pra cá muito bem instrumentalizados. Com uma formação de primeiro mundo. Há poucos dias, minha filha me disse que tem um portuga trabalhando com eles e que é o bambam em 3D. Esse aí é exemplo de muitos que estão, no Brasil, usufruindo do nosso despreparo; de nossa pouca técnica; de nossa desprofissionalização.
Vejam bem, não é que sou xenofóbica. Não é nada disso! Mas, precisamos ver com carinho essa história de imigrantes que estão aportando em nossas terras. As autoridades tem que ficarem bem atentas ao problema. Não podemos entregar o pouco espaço que temos para esse povo que já levou até nossas almas outrora. Assim é muito bonito pra nossa cara! Eles já usufruíram de todas nossas riquezas; levaram de um tudo pra eles; ficaram milionários às nossas custas. E agora que estão pobres virem pra cá ‘cordeirinhos’ pra nos tirar o restante. Essa é muito boa!  Vão à merda! Fiquemos todos de olhos bem abertos com esses ‘nossos irmãos’! Se eles fizeram uma vez, poderão fazer novamente. E agora somos nós mesmos que teremos que enfrentar as feras. Não serão os nossos irmãos indígenas, porque não tem mais forças pra tal empreitada. No passado, foram eles que deram suas vidas. Hoje teremos que dar nossa pele.  Quero ver, então, com quantos paus se faz uma canoa?!  
Acham que sou cricri? Que estou exagerando? Estou...! Mesmo porque se me fizer de melado, as formigas me comem viva. É outra...! Quem não gostar das minhas palavras que vá às favas, porque comigo é assim! Sou paraibana, mulher, mas não sou boba!    


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Capineiro


Era uma linda manhã de domingo
Sr. Vinícius: Bom dia, Roberto!
Roberto: Bom dia!
Sr. Vinícius: Estava aqui sem fazer nada, vi essa sujeira aqui na frente de casa. Pensei: Vou já trabalhar um pouquinho.
Roberto: Fez muito bem! O trabalho dignifica o homem, meu sogro!
Sr. Vinícius: Pois não?! Estava ajeitando as coivaras, porém o vizinho chegou pra reclamar; dei uma paradinha.
Roberto: Meu sogro, não esquente não! Fique tranquilo! Deixe pra lá; é assim o senhor não dê nem bolas.
Sr. Vinícius: É isso mesmo que estou fazendo.
Roberto: Tenho umas coisas pra resolver, mas qualquer  coisa o senhor me ligue.

Dia seguinte, bem cedo
O vizinho Sue Jurandir  vai até Sr. Vinícius que acordara cedo  pra botar fogo no lixo restante
Seu Jurandir: Seu Vinícius, o senhor já está tocando fogo? É mais fácil chamar a prefeitura; ela fará na boa esse trabalho. Fogo é perigoso!
Sr. Vinícius: Que Prefeitura que nada! Ela passa mal…mal de mês em mês! E não vou deixar essa sujeira na minha porta.
Seu Jurandir: Isso não tá certo; e o senhor sabe disso! Qualquer hora esse fogo pode subir e pegar na fiação ou até coisa pior.
Sr. Vinícius: Que nada! Não vai acontecer nada não! Estou com setenta e nove anos. Sempre fiz isso, não vai ser hoje que vai dar errado.
Seu Jurandir: Homem, quem avisa, amigo é! Depois, aqui não é sítio não. O senhor estava acostumado lá na roça. As coisas aqui são diferentes!
Sr. Vinícius: Cajazeiras é uma cidade melhor que aqui, seu Jurandir!
Seu Jurandir: Está bem, seu cabeça dura!

Alguns dias depois
Seu Jurandir: Sr. Vinicius, olha esse fogaréu, tá subindo!
Sr. Vinícius: Ô, homem espetaculoso! É somente uma labaredazinha, seu Jura! Isto não é nada não! Fique tranquilo!
Seu Jurandir: Filho, pega a mangueira aí! O fogo tá subindo! Vai logo, filho!
Me dar logo isso! O fogo vai estragar a fiação!
Sr. Vinícius: Que nada! Até já tá parando. Foi só uma soprada maior do vento. Já passou.
Seu Jurandir: O Sr. É mesmo uma besta!

É assim no bairro em que moro há quase cinco anos. Todo dia tem alguém botando fogo em lixo. Nem parece que moro numa capital! Pode crer, quando vê um fumacê aqui pros lado do Carrefuf, da Br. 230, já pode saber que é gente da minha vizinhança. Tenho a impressão que por causa da saudade que dar do sítio. Dos tempos de roçado, milho verde, batata doce, jerimum, e aquele friozinho bom. E mais, tempo de São João, São Pedro; época de fogueira, quentão, pamonha, cangica, quadrilha e forró do Sítio do Piquí. Sou a dona Francisca;  Cajazeirense. Comadre do Sr. Vinícius; e não estou nem aí pro bafafá dos dois, pois também sinto uma saudade danada disso tudo. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Um choro pleno de Mar



Choro e muito com todos os animais marinhos dessa costa de cento e trinta e oito quilômetros de litoral que tem a minha linda Paraíba!
E choro! Choro e não é pouco! Choro com todos os animais marítimos: tartarugas; cavalos-marinhos; águas-vivas; estrelas-do-mar; baleias, lagostas, corais; anêmonas; polvos; lulas e etc.
Caminhando à beira mar da Praia do Bessa, hoje cedo, horrorizei-me como sempre acontece após feriados prolongados como foi esse de carnaval. O plástico tomara conta dessa linda beira de mar. Pets, copos,  tampas, canudos, sacos, etc.; sem contar com tantas outras coisas piores, tais como: fraldas  descartáveis, modess, por aí vai!
Por isso, choro com o Mar. Choro. Choro pela falta de consciência do meu povo!  
Dói muito! Sempre dói muito! Quando presencio um cenário desse! É muita tristeza! Não dá nem pra descrevê-la! É falta de tudo, de educação, de senso de ridículo, senso de beleza e de amor! Amor à natureza, especialmente!  O Planeta pedindo socorro e o meu conterrâneo nem aí. Quer mais é que se exploda! Não dá a mínima!
Acham que é mentira minha?! Dêem uma passadinha por uma dessas 55 praias desse belo litoral! Vejam com os próprios olhos!
Quanta ignorância! Essa é a verdadeira face do meu conterrâneo! A ignorância atravanca o meu povo! Santa ignorância! Pra não dizer outro nome!
Quando seremos uma gente mais educada? Quando vamos deixar de sermos Zumbis?! É, porque é o que somos! Um bando de zumbis desprezíveis! Estão me estranhando, né?! Sei! Mas, é o que somos! Somos apenas pedaços de carnes sem miolo. Raciocinem comigo: o ser humano se distingue dos outros animais pela razão; se somos tão ignorantes, que não usamos nossa razão nem pra cuidar do nosso lixo; como devemos ser vistos? Quando deixaremos de ser tão inconsequentes?
A Natureza nos clama por uma atitude! Não temos muito tempo pra reverter o quadro que aí se encontra. Urgência, meu povo! Será que uma beleza exuberante dessa que temos não nos diz nada?  Precisamos nos espelhar nessa beleza toda e melhorarmos como pessoas mais conscientes com aquilo que temos. Enxergar como é horrível uma praia tomada de lixo. Não podemos ser assim tão cegos, ao ponto de não enxergamos, ao nosso redor, o que está gritante!

Chorar é pouco! Eu sei. A minha tristeza não cabe em mim! Desfaço-me em lágrimas. As lágrimas do mar se juntam às minhas, alagam toda extensão da costa do meu estado paraibano. Quiçá, num dia ensolarado como hoje, se juntem a nós àqueles que ora estão a usufrui-lo numa beirada de praia!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Carnaval meu bem, meu mal!



Ai, como eu amo Carnaval! Amooooo!
Como falou Dom Helder: “Carnaval é alegria popular! Diria mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para minha gente querida.”
Isso mesmo! Sou apaixonada por Carnaval! Digo mais, na minha opinião, o Carnaval é a expressão máxima da identidade brasileira. E explico: Essa Festa profana revela toda nossa mix cara; resgata-se, nele, toda tradição provinda das diversas raças formadoras do nosso povo. E mais, traz à tona toda a alegria do brasileiro, seja ele rico ou pobre, unindo-se num só elo de irmandade. Momento ímpar, quando as pessoas saem às ruas com intuito de brincar, cantar, se divertir, e se aglomerar. Já que não se tem como brincar carnaval sem se integrar aos blocos, agremiações e clubes. Detalhe: é um sonho efêmero de felicidade, quando todos se esbaldam na folia, não se importando com os problemas, sejam de ordem financeira ou de outra ordem qualquer.
Hoje eu sei que amo o Carnaval. Mas, até 1980 eu não tinha noção do que era. Foi quando tive a felicidade de conhecer o Carnaval de Olinda. Aquilo fora, pra mim, o maior Carnaval da minha vida! Aqueles blocos subindo e descendo ladeira.  Aquele frevo me invadindo. Eu e minhas amigas enlouquecidas de tanto pular! Chega a quarta-feira de cinzas. Hora de se despedir da frevança. Foi difícil pra minhas amigas me convencerem que chegara a hora de retornar à realidade. Voltar pra João Pessoa seria a mesmice! A chatice de sempre! A opressão de vida! Se ainda hoje, é esse paradeiro, imaginem na década de oitenta!
Mudou muito o Carnaval em João Pessoa, mas mesmo assim nem se compara ao Carnaval de Pernambuco. Lá tem cenário, figurino, coreografia e escambau a quatro no Carnaval. O Frevo é o diferencial. É contagiante! É diferente! A gente não pode negar! Quem negar isso é um grandíssimo despeitado. Não podemos negar que já avançamos muito. Há alguns blocos de peso, como: Muriçocas, Virgens de Tambaú e Cafuçú. Porém, vamos e convenhamos, o nosso Carnaval não chega aos pés de Olinda. É preciso muito ainda pra dizer que temos um bom Carnaval! Ai, o Bacalhau do Batata! Galo da Madrugada e tantos outros blocos.
Os pessoenses estão de parabéns! Vão às ruas na maior alegria, mostrando-se abertos à brincadeira carnavalesca. É muito bacana mesmo! Agora o que eu acho hilário são as autoridades irem à TV falarem que estão oferecendo toda folia gratuitamente. Espertalhões! Comem o juízo do povo com um discurso eleitoreiro. E fazem assim, desavergonhadamente, já de olho nas próximas eleições. Mas, apenas mostram o quanto são pequenos e mercenários. Quem não sabe que todo patrocínio é público, tirado do nosso rico dinheiro; dinheiro, inclusive, bem caro; de impostos picantes embutidos até nos pacotes do açúcar que adoçam nosso gostoso cafezinho? São uns farsantes! Quem não os conhecem que os comprem!

sábado, 9 de fevereiro de 2013



A Bibinha

Buemba, buemba! Macacos me mordam! – imitando o Zé Simão
A Bibinha: Moreco, sabe aquela plantinha que você me deu de presente? Pois num é que arrancaram!
O bofinho: É, quem será que fez isso, hein…?! Eu não sei, nem tu sabes…,né!
A Bibinha: A maluca do 72; quem mais…?!
O bofinho: Ela que me aguarde!
A Bibinha: Já sei o que vamos fazer, Morequinho! Tá tudo aqui na cachola; já bolei tudo. Ela vai ter o que procura.
O bofinho: É, então me conta.
A Bibinha: Vamos puxar um gato de luz do lado dela. Que tal num é legal?
O bofinho: Isssssso! Bravo! – batendo palmas, na maior felicidade

Noutro instante
A Bibinha: Noviiiii! Eu já comprei um ar-condicionado.
O bofinho: Legaaaaaaal! Assim a gente dá o troco nessa maluca!
A Bibinha: Bom é que a nossa conta de luz vai ser a mesma; não vai alterar em nada.
O bofinho: Né, não…! Tô ligado.
A Bibinha: Mô, eu preciso que fiques em casa amanhã, pois tenho um compromisso e o rapaz da loja virá fazer a instalação.
O bofinho: O que você me pede chorando, que eu não lhe faço sorrindo, minha gostosa!
A Bibinha: Depois eu te farei aquele cafuné que tu gostas, Morecozinho.
O bofinho: Tá combinado. Gostosa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Vestiu azul a sorte então mudou… Vestiu azul a sorte então mudou. O Buemba-buemba  no lombo da macacada. Tudo acontecera conforme fora previsto; e o ar-condicionado fora instalado. O cafuné fora realizado. Os dois bibinhas sossegados. O troco na maluca fora dado. A paz se instalara naquele reizado de veados. E bom era que tudo estava de acordo fora planejado. Inclusive, quem pagava as contas salgadas era a talzinha que arrancara a plantinha. Bem feito pra ela, quem pediu pra botar a mão em cumbuca.
Gostosa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

fim

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Estrangeiro




Em um residencial qualquer da capital reside um espanhol.
O gringo fora apresentado a Lu por Bruno, um dos amigos de república; dias antes dessa conversa.   
Joaquim: iHola!
Lu: Oi
Joaquim: A usted le gusta  aqui este apartamiento?
Lu: Sim.
Joaquim: Estoy a comprar este piso adonde vivo. Mis amigos teran que conseguir outro sitio para morar.
Lu: Sim? Sorte!
Joaquim: Gracias.  Y para usted también.
Lu: Obrigada.
Joaquim: Usted vive sola?
Lu: Sim.
Joaquim: Cómo uma chica tan hermosa vive sola?
 Lu:É a vida! Ainda não encontrei minha outra parte da laranja.
Joaquim: i Sí! Y deseas encontrar?
Lu: Lógico!
Joaquim: iAsí! Me gustaria mucho  levarte para cenar. Aceptas?
Lu: Sim.
Joaquim: Entonces te encontraré veinte para a las ocho acá mismo.
Lu: Combinado.

Joaquim passa para pegar Lu na hora combinada.
Joaquim: iEstás muy guapa, muchacha!
Lu: O que disseste?
Joaquim: Que estás linda.
Lu: Muito obrigada.
Joaquim: Vamos cenar cerca del condomínio, porque tengo luego despues una llamada urgente.
Lu: Como quiser!
Joaquim: Te gusta los peces?
Lu: Muito.
Joaquim: iEntonces hoy vas a comer un exquisito pez!
Lu: Como?
Joaquim: Vamos comer um saboroso pez.
Lu: Agora sim.

Logo que jantam, voltam imediatamente pra o condomínio. Joaquim tinha urgência em fazer um telefonema pra Espanha.
Joaquim: iHola! Es Joaquim, de Brazil. Gilberto encontrase?
Voz do receptor: Sí. Voy a llamarle.
Joaquim: Gracias.
Gilberto: iHola, Joaquim! Qué deseas?
Joaquim: Gil, encontré la muchacha de nuestros sueños. Llamase Lu. La persona cierta para nuestros planes.
Gilberto: iSí, hombre!
Joaquim: Te manteneré a par de todo; contacteré así que negociar mejor. Aguardeme.
Gilberto: iVale, Kim!
Joquim: Vale. Luego teré buenas notícias.  

Ambos, Joaquim e Gilberto fazem parte de uma máfia internacional de tráfico de mulheres. Joaquim está no Brasil com o único intuito de fazer a cabeça de jovens com ótimas propostas de trabalho, mas os planos  é levá-las para fins de prostituição.

FIM.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Suicida



Mais um dia comum na casa do Senhor Genival   
Sr. Genival: Eu só tenho sessenta anos. Mas, se daqui há algum tempo, eu não tiver condições de tomar de conta de mim mesmo, não ficarei nenhum minuto nas mãos de filho! Eu me mato.
Zequinha (filho que ainda visitava o pai; de quatro filhos):Mas que besteira, meu pai! O Sr. está tão novo, tinha mais que arranjar um novo amor. Sair, passear, ir à praia.
Sr. Genival: Eu não! Minha vó já dizia que bom José faz, que em sua casa tá em paz. Vou sair pra quê? Não perdi nada na rua.
Zequinha: Meu pai, o Sr. ainda é novo. Eu sei que o Sr. e a mãe sempre foram muito caseiros. Mas, se a mãe já não tá mais com a gente...o Sr. tinha mais que sair; se distrair. A vida continua, Seu Genival.
Sr. Genival: Filho, eu sei da minha vida! Cuide de sua vida, e deixe que eu cuido da minha!
Zequinha: Pai, eu só quero o seu bem! Quero só ajudá-lo.
Sr. Genival: Eu sei. Fique tranquilo! O seu velho pai está bem; não tem que se preocupar com nada.
Zequinha: Estou tranquilo, mas é que esse modo de viver solitário não lhe faz bem. E isso me preocupa, pai.
Sr. Genival: Já falei que quem sabe da minha vida sou eu!
Zequinha: Tá bem, meu pai!

Cinco anos depois
Sr. Genival: Filho, cadê meus óculos?
Zequinha: Pai, os óculos estão na sua cabeça.
Sr. Genival: Essa agora! Estou ficando velho mesmo!
Zequinha: Pai, vamo almoçar fora hoje?
Sr. Genival: Pra quê? Eu não. Prefiro comer meu feijãozinho aqui em casa mesmo.
Zequinha: Vamo sair um pouco? Só vai lhe fazer bem!
Sr. Genival: Já lhe disse que não!

Dias depois
Zequinha: Pai, pai, o Sr. está dormindo ainda essa hora? Acorda, pai! Pai, pai, pai...

(O Sr. Genival havia tomado todo vidro de estricnina; suicidou-se. Seu Genival sempre falava que jamais ficaria nas mãos dos filhos; ele achou melhor dar cabo da própria vida. Pra uns, heroísmo; pra outros, covardia. Eu ainda hoje, após cinquenta anos, guardo na memória aquela infeliz cena. Meu pobre vô, tão novo, gordo e corado ali naquele caixão. Meu querido vô paterno morto;  parecia que estava apenas dormindo.)
  

fim 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A ‘Lesinha’



A ‘Lesinha’

Jane: Ah, assim é muito bom! Tu és amante dele e eu quem paga as contas.
Joyce: Eu não pedi pra nascer. A senhora me teve, agora me assuma. Eu sou sua filha, é sua obrigação de mãe.
Jane: Mas, tu já estás com esse homem há quase três anos; na cama, mesa e banho. Ele precisa assumi-la!
Joyce: Ele não é nem meu pai nem minha mãe, por que iria me assumir?
Jane: Muito bom! Ele fica contigo pra cima e pra baixo; dorme contigo. E eu que pague as despesas de lanche, gasolina, manicure e outras coisas mais? Assim é maravilhoso!  
Joyce: Não quero falar mais nisso, mãe! A senhora não entende?! Eu só estou ficando com o Marco. A gente só fica, mãe;  sem compromisso nenhum.
Jane: Ah, sei! Ele é apenas um namoradinho! Pra mim ele é um espertalhão que te usa pra depois te dar um belo de um chute.
Joyce:   Já conversamos sobre isso. Se a senhora quiser continuar com essa história, vai conversar com as paredes, pois eu estou fora.
Jane: Tem gente que é cega! Vê, mas não enxerga. Assim é tu, Joyce! Não vês que esse camarada não te ama, garota?! Se te amasse, já teria casado contigo.
Joyce: A senhora tá dizendo!
Jane: Vou continuar te patrocinando, porque não sou pilantra como esse tal de Marco!
Joyce: É obrigação de mãe!
Jane: Filha, me escuta! Tu és uma pessoa inteligente, não fica nessa não! Vás continuar com esse pilantra? É, porque pra mim ele é um pilantra de marca maior!
Joyce: Quer falar, fala!
Jane: Falo mesmo! Esse aí não passa de um cafajeste, se aproveitando de pessoas ingênuas.
Joyce: Eu tenho que ficar te ouvindo?
Jane: É por causa de sexo?
Joyce: Também.
Jane: Tu és nova, bonita! Homem não vai te faltar! Larga esse puto antes que fiques velha e feia.
Joyce: Só porque a senhora quer!
Jane: Tá bem, garota. Vou fingir que isso não está me acontecendo. Eu pagando as contas dum macho esperto.
Joyce: Vamos parar?!
Jane: Certo. Vamos parar. Não adianta mesmo, querer te mostrar que esse Marco não te ama, pois quem ama não faz como ele não. Tudo bem. Eu já parei.

Fim