sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

VIVER O NATAL


Viver o Natal
É mais que solidariedade
É rezar pela humanidade
Tão presa ao material.
    Viver o Natal
    É olhar ao seu redor
    É enxergar a Essência e Cor
    Naquilo que é simples e banal.
Viver o Natal
É viver com alegria
O Amor de Jesus; sua sabedoria, coisa e tal
Porque nada mais nos compraz no dia-a-dia.
    Que Reviver o semblante
    De nosso Pai
    _ o SALVADOR dos errantes _
    Pois, a sua PAZ é nosso ÁS.

O MAR


Tuas águas são salgadas
Tuas ondas sexuadas
Teu cheiro peculiar.

Diz-me muito o teu murmurar
Tua energia?
Acalma-me e faz-me conjecturar.

Se bravio, toda cautela é pouca
Alegria em apenas caminhar!
Se calmo, vou nadar.

Muito brilho, o sol a me beijar
Curto, demasiado, toda a natureza
Tudo em ti me enfeitiça e me faz sonhar.

Quero garranchar na areia
Escrever um nome
Mon amour! Vibrar de tanto tesão.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Resenha: O Mar Poético de Lúcio Lins


TODAS AS ÁGUAS
InterArte Comunicaçoes
Capa: Archidy Picado Filho
João Pessoa- 2006

                                                    Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
                                                                                                  Fernando Pessoa

Livro que não poderá faltar em sua estante; isso porque o mesmo trata, de forma didática, das obras do célebre Poeta paraibano Lúcio Lins. Trabalho muito bem produzido sob a coordenação de Wanderley Farias.
Pensem num livro bom! Isso mesmo, o livro é de peso. Mostra toda a grandiosa produção literária desse Poeta, que não tenho nem palavras pra dizer tamanha a sua magnitude.
Todas as Águas é um livro composto por 206 páginas repletas da verve criadora de Lúcio Lins.
Divide-se em:
I)O primeiro livro, publicado em 1982 pela editora Universitária, traz como título: lado que cavo que covas; refere-se ao seu poema da página 27.

Veja:
quando de um lado
cavo
de um outro
covas
é no cimento armado
armando
a arquitetura prolixa
de não sobre sim sobre não
quando de um lado
cavo
covas
de um outro

São 55 páginas de imaginação e inspiração.

Vê-se em:
Exércicio Agrícola
acerca
de mil anos
estamos nos
cercados
calo na mão
a enxada
e a par
do que cava
de terra
o piso
e piso
na terra (pg.32)

Pouco mais de sua inventiva criação:
Paralelo
no sentido lato
entre os cães de rua
sob o pelo menos
morder a óssea vida
agitando a cauda
do não
ou sim
ser meu animal
mais amigo homem

II) Já em ‘As Lãs da Insônia’, segundo livro, publicado em 1991, pela editora Ideia Ltda., o poeta mostra-se apaixonado.

Observe:
da musa
são coisas tuas
os meus pertences
do espelho ao pente
- tudo com que faço
formas
meu
assanhar teus cabelos
deixando a rima
solta ao vento
meu
alinhar tuas palavras
frente ao espelho
de um novo espelho
é coisa tua
colocar-me
entre teus parentes (pg. 83)

Também no poema abaixo, a paixão é recorrente:
fóssil
quantos marinheiros
fizeram a pedra
do meu porto
hoje náufragos
fazem a lápide
do meu corpo
sou um porto de emoções
o cais (meu coração)
tem outra história ancorada

III) Perdidos Astrolábios, o seu terceiro livro, editado pela Universitária, datado de 1999, com 38 páginas do universo aquático, tem como texto inicial ‘Diante D’Rei’- é um poema de caráter dramático. São as falas de 10 náufragos.
(O Mar é tipo uma obsessão)

Observe em:

Memória das águas
Para Adeildo Vieira
sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal
sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o barulho nas ondas
uma linguagem lusitatana
sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras (p.112)

Ainda o Mar:
O velho e o Mar
Para Edônio Alves do Nascimento
E Milton Marques Júnior
conheço o mar
com o mar
vocabulário parco
o mar
aquém do barco
(os pulmões
superinflados
pela brisa
e a barba
de espumas e sargaços)
se me dizem
mais
me dizem búzios
que as marés
esculpem
que os mares
se ocultam
eis o mar que escuto! (p. 106)

Um Mar bem nosso:
Cabo Branco
extremo Cabo Branco

estranho trampolim
ao contemplar o Atlântico
o mar mergulha em mim (p.110)

E mais Mares dantes navegados, veja:
Águas de beber
Para Magdelaine Ribeiro
o mar
de Camões
o mar
em Pessoa (p.111)

IV) Há ainda os textos inéditos, que estão entre as páginas 131 e 150. Fora as parcerias musicais com várias personagens artísticas, como: Fuba, Byaya, Zé Wagner, Xisto Medeiros, Salvador de Alcântara, Chico Víola, Paulo Ró, Pedro Osmar, e tantos outros.

V) Depois tem ainda, os Rabiscos do poeta, as Anotações e a Memória fotográfica.

VI) Por fim, ‘O oceano de palavras em Lúcio Lins’, análise literária sobre o próprio por Magdelaine Ribeiro – Profa. de Literatura da Universidade de Bordeaux III, França.

Como se ver, o livro em foco, Todas as águas é um belo livro. E recomendo-o para aqueles que desejam ficar a par da vida e obra desse Poeta paraibano: Lúcio Sérgio Ferreira Lins.
Façam um excelente proveito!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

EUCLIDES DA CUNHA



Morreu de morte matada
A 15 de agosto de 1909
Um século de sua ida
Pra cidade de pés juntos
Como, então, pode tal fato
Passar em brancas nuvens?

         2
Homem das letras
Da prosa e da poesia
Será pra sempre lembrado
Em nosso coração palpita
Uma de sua mais linda epopeia
‘Os Sertões’, uma obra completa.

3
Descrição fiel do sertanejo
A Terra, O Homem
Além disso, A Luta
Como não valorizar alguém dessa monta?
Nossa literatura é o que é
Porque nosso escritor é dessa conta.

         4
Euclides da Cunha
Homem sensível e de caráter
Revelou nossa terra como nenhum outro
Em Canudos, o beato Antônio Conselheiro
Fez miséria lá pra o lado da Bahia
Foi um cão chupando manga.

         5
“Em 1897 – a Guerra de Canudos 
precisa ser lembrada”, disse
Maria de Belém (mestra)
Historiadora
Conhecedora dos fatos
Que só se contam na escola.

         6
Muita gente se lembra
Do beato Conselheiro
Homem de sangue nas ventas
Arregimentou o sertão
Pra uma briga de facão
Contra os coronéis latifundiários.

7
Lá no sertão,  um sofrimento só
No Arraial de Canudos
Notícia pra o Brasil inteiro
A polícia aos pulos
Diante da saga daqueles guerreiros.
         8
Muita matança...
Que raça de covardes!
Toda aquela gente dizimada
Não contaram conversa
Transformaram o povoado em lenda
E o lugar virou cinzas.

9
Virgem Santíssima, mãe de Jesus Cristo!
Uns milicos demoníacos!
O sangueiro escorrera nos lajedos
As mocinhas se escondiam
Era demasiada a extravagância
Grande coisa aqueles anticristos!

         10
Quando me contaram o ocorrido
Fiquei zonzo só de imaginar
Tremi nas bases
Senti um medo da bexiga taboca
Borrei nas calças
Resolvi botar a boca no trombone.

         11
O inferno está cheio daqueles incréus
O fogo queimando os seus traseiros
Que nem Zebedeu
Pois a justiça dos céus
Tarda, mas não falha
Bota pra arder os ateus.

         12
Eu não sinto um pingo de pena
Posso mesmo é comemorar
Já que quem faz aqui na terra
Tem mais que pagar
Se eles entraram na chuva
Tinham que se molhar.

         13
Ó, Euclides!
Cumpriste a tua missão
Relatando as atrocidades
E opressão
Contra aquela gente humilde
Que não arregou nenhum tiquinho.

         14
Lá pra banda do Amazonas
Euclides resolveu se enfiar
Riquezas pra todo lado
E piratas a se refestelar
O escritor queria tudo anotar
A beleza da natureza fizera o homem delirar.

         15
O látex estava na vez da bola
Os seringais fascinaram os barões
Eram um chama pros gringos
Inglês, americano, e japonês
Os nordestinos faziam a borracha
E as prostitutas francesas, a cama dos patrões.

         16
Aquilo não passara de sonho
Para os senhores feudais brasileiros
Não levou muito tempo
A derrocada da opulência
Tudo fora roubado
E levado para as terras europeias.

         17
A Floresta Amazônica está na mira agora
Quem tiver ouvido, ouça
A Amazônia é nossa!
Ninguém tasca aquele presente de Deus
Mas, pra isso
Precisamos nos obstinar, ora!

         18
Com o escritor Euclides
Quero me congratular
Refletir a nossa realidade
Convocar o meu país
A ficar de olhos bem abertos
E cuidar do nosso ‘Eldorado’.

         19
Sejamos destemidos
Encaremos nossa batalha de frente
Bater pino nessa hora
É pura ‘lezeira-baré’
O caldeirão tá fervendo
Encaremos a crise, pois não somos dementes.

         20
A luta é de foice
Será que estamos preparados?
Não podemos titubear
Nesse impasse global
O dia D tá chegando
Não pensem que é só carnaval.

         21
Euclides, ó Euclides!
Onde estás que não respondes?
Esses cem anos se comemora tua partida
Os nossos correligionários precisam mais
Abrir os olhos
Se tocarem com os desmandos.

         22
Os paraibanos tem uma missão
Darem a sua contribuição
A flecha foi lançada
Aquinhoemos nossas obrigações
Façamos nossa parte
Pois seremos por todos ovacionados.

         23
Armemo-nos até os dentes
A peleja vai ser de amargar
O bicho vai pegar
Ao Chaves, temos que nos atrelar
Somente ele pra nos ajudar
Ele tem cacife e é nisso paxá.

         24
Conterrâneos, não neguemos fogo!
Não batam pino
Fiquemos atentos
Peguemos as metralhadoras
Enquanto o caldeirão esquenta
A batata logo está ao dente.

         25
É matar ou matar
Se você está com medo
Não precisa me seguir
Chupe gelo
Esconda-se
Deixe tudo comigo.

         26
Homem não chora
Quem já viu homem chorar?
Mulher também não
E eu vou provar
Tá aqui minha peixeira
Digo-te com firmeza: vamos precisar
O negócio vai arrochar.

         27
Olha aí o meu recado
Que ele sirva de aviso
Que meu discurso repercuta
Seja o alerta que todos precisam
E os brasileiros se conscientizem
Pois o problema é de morte.


         28
Aquele que sobreviver
Será, enfim, jubilado
Viverá feliz e na paz
E nosso país agraciado
Livre dos espertalhões
‘Donos do mundo’.
 





        

domingo, 18 de dezembro de 2011

RESENHA: O Evangelho segundo o Arcebispo da Paraíba


O Evangelho segundo Dom Aldo Pagotto
Editorial Forma
João Pessoa-PB/2011

O Evangelho nos nossos dias, de Dom Aldo, é um evangelho bem mais aprofundado do que o de João, Mateus, Marcos e Lucas precursores de Jesus, porque esses registraram apenas os milagres de Deus. Já Dom Aldo abre portas para o leitor questionar-se sobre si e sua vida cristã, além de reafirmar que a verdadeira luz e esperança encontram-se, sem dúvida, em servir ao Filho de Deus nessa nossa sociedade conturbada. 
Incompreensões de toda sorte, pichações na igreja matriz, perseguições, enfim ignorâncias à parte.
Dom Aldo Pagotto conseguiu dizer a que veio nessa linda obra. Hoje ele está de alma lavada, pois mostrou para os paraibanos de que é capaz: ele segue, na íntegra, as regras de Nosso Pai. Mais, que cada um pode passar pelo deserto a qualquer momento; o dele foi superado. 
A obra se constitui de 291 páginas de ensinamentos e sabedoria. Dividido em 9 partes, com temas diversos: desde  aborto, passando por homofobia, bullying, células troncos, jogos de azar, movimentos sociais, convivência e segurança cidadã, entre outros.

Veja:
pg.27 “...Hoje se rebola um filho recém-nascido em qualquer canto. Fetos são encontrados no lixo, no mato, ao lado de uma lagoa.”
pg.68 “O homossexualismo é um  movimento internacional organizado e articulado em rede, com forte marketing e respaldo financeiro, contando com influentes, sobretudo nas dimensões sócios-culturais.”
pg.46 “...O que fazer para superar a violência nas escolas?(...)No entanto, precisamos discernir e decidir, propondo medidas concretas, emergenciais.”
pg.55 “A discussão e resolução sobre a liceidade de uso de embriões humanos por fins terapêuticos nos obriga a refletir...”
pg.170 “Foi aprovada nas diversas instâncias da Comissão de Constituição e Justiça da Câmera dos Deputados o projeto que legaliza o funcionamento de bingos eletrônicos de azar no país”
pg.208 “O MST se originou da CPT, movimento que nasceu da atuação de alguns bispos.”
pg.277 “É indispensável que a população se conscientize e se envolva efetivamente. Para esse engajamento, surge o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) uma espécie de ‘PAC’ para organização e sustentabilidade dos serviços de segurança pública.”

Essa amostra grátis do livro em destaque é só para dar uma apimentada num potencial leitor.
Esse é, com certeza, o melhor presente neste Natal.  
Fiz a minha parte. Recomendo-o a todos, cristãos e pagãos.
Fiquem na paz.
BOAS FESTAS!  

MEU IRMÃOZINHO ZÉ LIMEIRA


Muita gente me pergunta
Se sou parente de Zé Limeira
Eu respondo bem faceira
Que os Limeira é um povo só
Que o Poeta do Absurdo
É, portanto, meu orgulho, meu amor.

Tanto digo e confirmo
Que o negócio virou verdade
Minha poesia beira à eternidade
Transcendência é a dica
De grande parte da nossa poética
Ambas se estreitam na hospitalidade.

Meu Poeta Zé Limeira
Não precisa de gratidão
Porém, eu apenas vivo
Do que dita meu coração
Tanto é assim que me arrepio
Mexe com minha emoção.
Meu Poeta Zé Limeira
Cantou magoas do seu tempo
Hoje canto eu, continuando o seu repente
Brigas de foice
Muito mais, crimes hediondos
O joio não passa pela peneira.

Teu Absurdo foi fichinha
A galera do sertão que não me deixa mentir
Enquanto o galo briga
Na rinha do senhor Dente de ouro
O crack rola solto
E a polícia queima os miolos.

Poetando, ó seu Limeira
Vou à linha de frente
Tanta rima dos Limeira
Registrando a história
Deve-se sempre olhar pra frente
Salvando, de tal gente, a memória.

Zé Limeira, meu Poeta!
Isso foi acontecer
Tu no Absurdo
E eu, somente no apetecer
Absurdos versos Absurdos
São nossos, aliás, porretas.

Vou contando a verdade
Deus até está duvidando
Os políticos falam, falam
Mas, não fazem nada não
Vivem todos no bem baum
Então...?! Vão querer austeridade?

Absurdo mesmo, Poeta Zé Limeira
É a vida dos cristãos
Dizem que salvos estão
Porém, à porta estreita
Está aquém
E à larga, eles rodam de montão.

Paraibano arretado
Desde novo declamando
Seus poemas, coisa e tá
Vou dizendo, esse minino, lá...lá...lá!
O papo está bom danado
Mas, é por conta dos contatos.

Se fingindo de inocentes
Poeta Limeira, somos pé quente
Parecemos tão humildes
Dados a especular
No domingo espetacular
As porradas adjacentes.

Tanta guerra por aí afora
Na Líbia, Egito e Síria
Morre muita gente
Até crianças inocentes
Penso que chegamos aos fins dos tempos
Vamo, irmãozinho Limeira, arregaçar agora.

O mundo não tem mais jeito
As pessoas perderam o senso
O planeta terra é um hospício
Tarimbado no nosso improviso
Na minha viola, teu canto segue perfeito.

Brincadeira à parte; tudo tem hora
Não podemos abusar
A ficha já caiu
Eu preciso avisar
Que o Poeta Zé Limeira
Engrenou o trem da história.

As vilanias do mundo de hoje
Os fatos beligerantes
Ditados na mídia, são periclitantes
Gaddafe que o diga
E os seus filhos? Morrem na avalanche
Poeta, eita nós, oxe!


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Augusto dos Anjos


  Por ocasião do 125º ano do seu nascimento. 

Anjo da poesia paraibana
Presenteou-nos com uma única obra
Dádiva do céu _
O seu livro Eu.

Nem ligou para o mau gosto
Foi considerado o Poeta da Morte
O ridículo foi seu mote
Cantou, sem escrúpulo, o tosco.

Hegel, Spencer e Haeckel
Foram  sua inspiração
Filósofos que nos pegaram pelo pé.

As poesias desse poeta nos encantam até
Os jovens se contagiam com essa bênção:
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos.

As belezas da Paraíba






Tem coisa mais linda que a praia de Tambaú?
Evidente que não!
E o que me dizem sobre a praia do Cabo Branco
Não é também um encanto?
Vou mais além
Adentro ao interior paraibano
Outras paragens me seduzem
Campina Grande encantadora como sempre
Terra do Forró Maior do Mundo
Atrai a todos, não dá pra seu ninguém!
 Quer experimentar um clima ainda mais fresco
Vá até Olivedos
Pequenina, porém muito aconchegante
Tem um povo fascinante
Com um sorriso constante.
Ai, Soledade!
Linda como dantes
Quando havia apenas uma rua.
 Exalto, enfim, a minha terra natal:
João Pessoa, idolatrada!
Que gente querida!
Não existe igual.
 Já estive pelo Brasil inteiro
Topei com todo tipo de brasileiro
Doutor, padre, professor
Lavrador, borracheiro e Zé-Ninguém.
Trago-os todos no meu peito, com amor
Cada um tem o seu valor
Porém o meu pessoense tem um quê
Que só a gente sabe o caqueado
Brejeiro, solidário. Que os céus digam amém!
Meu padrinho Pe. Cícero!
Quero que fique bem dito
Terra como a nossa
Pode existir, mas tenho certeza
Igual nunca se viu
Já rezei uns mil rosários por isso
Pra meu Santíssimo Jesus Cristo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

RESENHA: Pavão Misterioso

RESCALDO, de José Bezerra Cavalcante
Editora UFPB
João Pessoa – 2011


José Bezerra Cavalcante nasceu em Esperança/PB
em 30/06/1940. Participou ativamente do movimento
litero-artistico Geração 59.
Escreveu sua primeira obra em 2009, Baú de Lavras, 
por ocasião do cinquentenário da Geração 59.

                                                                
O que dizer sobre a obra Rescaldo, do escritor José Bezerra Cavalcante?
Iniciando pelo título:
Rescaldo, conforme o Aurélio, significa: calor reverberado pelo incêndio
ou fornalha.
E pelo texto que dá nome à obra:
Rescaldo
“Vereis, enfim, os meus fundantes idos
foram tão pelo tempo carcomidos
que após nenhuma chuva e grã queimada
jazem rescaldos d’ontens, por si cotos,
entre coivaras e tições de outrora.
E que sob céu assim, de todo cinza
sigo beirando esse borralho túmido,
com pés doídos, pelo opaco afora.” (p.21)

De cara, vê-se toda a sofisticação no uso metafórico; caracterizando, portanto, uma linguagem hermética, densa, e excêntrica. Como o próprio autor, em suas notas, fala “a palavra quase sempre assume um sentido-alvo”. E mais além o mesmo define: “Poesia é a ante – e a retroface, a sobre – e a infraface da realidade objetiva...” Depois, o autor finaliza “teimo em poetar, isto é, praticar o modo infinitivo de poesia; de preferência, recompondo retalhos de antanho, uma vez que poetar sobre o passado é como manipular o tempo.”

Sua poética é plena de erudição; discurso cheio de torneios linguísticos, jogos vocabulares, cadência, concisão etc., bem ao gosto dos pós-modernistas, ou mais precisamente dos (neo)barrocos. Veja-se em Mareo:
Esse sol sem sombra
me tosquia o rumo,
me semeia mangue,
me derreia o prumo,
me vadia exangue
e transluz o sumo
do meu próprio sangue.(p.23)

Sarduy (1972) define o barroco não só como um período específico da história da cultura, mas como uma atitude generalizada e uma qualidade formal dos objetos que o exprimem;...”

A Poética, de José Bezerra Cavalcante, remete o leitor a essa crença diante de textos tão bem costurados e lapidados; em que sua poesia-objeto infere ímpar repensar.

Para Sarduy também, “a leitura é um ato de enfrentar e resolver os problemas das anamorfoses, forma natural embora distorcida pela reflexão,...” Nada mais justo, que tal leitor desenvolva o seu veio criativo e generoso ao realizar a leitura dessa e de outras poesias.

Assim sendo, que fique pra todos os leitores, essa possibilidade de aventurar-se num profícuo, mas nem tanto fácil, que é o ato de ler. Ótima Leitura!