quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Augusto dos Anjos


  Por ocasião do 125º ano do seu nascimento. 

Anjo da poesia paraibana
Presenteou-nos com uma única obra
Dádiva do céu _
O seu livro Eu.

Nem ligou para o mau gosto
Foi considerado o Poeta da Morte
O ridículo foi seu mote
Cantou, sem escrúpulo, o tosco.

Hegel, Spencer e Haeckel
Foram  sua inspiração
Filósofos que nos pegaram pelo pé.

As poesias desse poeta nos encantam até
Os jovens se contagiam com essa bênção:
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos.

As belezas da Paraíba






Tem coisa mais linda que a praia de Tambaú?
Evidente que não!
E o que me dizem sobre a praia do Cabo Branco
Não é também um encanto?
Vou mais além
Adentro ao interior paraibano
Outras paragens me seduzem
Campina Grande encantadora como sempre
Terra do Forró Maior do Mundo
Atrai a todos, não dá pra seu ninguém!
 Quer experimentar um clima ainda mais fresco
Vá até Olivedos
Pequenina, porém muito aconchegante
Tem um povo fascinante
Com um sorriso constante.
Ai, Soledade!
Linda como dantes
Quando havia apenas uma rua.
 Exalto, enfim, a minha terra natal:
João Pessoa, idolatrada!
Que gente querida!
Não existe igual.
 Já estive pelo Brasil inteiro
Topei com todo tipo de brasileiro
Doutor, padre, professor
Lavrador, borracheiro e Zé-Ninguém.
Trago-os todos no meu peito, com amor
Cada um tem o seu valor
Porém o meu pessoense tem um quê
Que só a gente sabe o caqueado
Brejeiro, solidário. Que os céus digam amém!
Meu padrinho Pe. Cícero!
Quero que fique bem dito
Terra como a nossa
Pode existir, mas tenho certeza
Igual nunca se viu
Já rezei uns mil rosários por isso
Pra meu Santíssimo Jesus Cristo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

RESENHA: Pavão Misterioso

RESCALDO, de José Bezerra Cavalcante
Editora UFPB
João Pessoa – 2011


José Bezerra Cavalcante nasceu em Esperança/PB
em 30/06/1940. Participou ativamente do movimento
litero-artistico Geração 59.
Escreveu sua primeira obra em 2009, Baú de Lavras, 
por ocasião do cinquentenário da Geração 59.

                                                                
O que dizer sobre a obra Rescaldo, do escritor José Bezerra Cavalcante?
Iniciando pelo título:
Rescaldo, conforme o Aurélio, significa: calor reverberado pelo incêndio
ou fornalha.
E pelo texto que dá nome à obra:
Rescaldo
“Vereis, enfim, os meus fundantes idos
foram tão pelo tempo carcomidos
que após nenhuma chuva e grã queimada
jazem rescaldos d’ontens, por si cotos,
entre coivaras e tições de outrora.
E que sob céu assim, de todo cinza
sigo beirando esse borralho túmido,
com pés doídos, pelo opaco afora.” (p.21)

De cara, vê-se toda a sofisticação no uso metafórico; caracterizando, portanto, uma linguagem hermética, densa, e excêntrica. Como o próprio autor, em suas notas, fala “a palavra quase sempre assume um sentido-alvo”. E mais além o mesmo define: “Poesia é a ante – e a retroface, a sobre – e a infraface da realidade objetiva...” Depois, o autor finaliza “teimo em poetar, isto é, praticar o modo infinitivo de poesia; de preferência, recompondo retalhos de antanho, uma vez que poetar sobre o passado é como manipular o tempo.”

Sua poética é plena de erudição; discurso cheio de torneios linguísticos, jogos vocabulares, cadência, concisão etc., bem ao gosto dos pós-modernistas, ou mais precisamente dos (neo)barrocos. Veja-se em Mareo:
Esse sol sem sombra
me tosquia o rumo,
me semeia mangue,
me derreia o prumo,
me vadia exangue
e transluz o sumo
do meu próprio sangue.(p.23)

Sarduy (1972) define o barroco não só como um período específico da história da cultura, mas como uma atitude generalizada e uma qualidade formal dos objetos que o exprimem;...”

A Poética, de José Bezerra Cavalcante, remete o leitor a essa crença diante de textos tão bem costurados e lapidados; em que sua poesia-objeto infere ímpar repensar.

Para Sarduy também, “a leitura é um ato de enfrentar e resolver os problemas das anamorfoses, forma natural embora distorcida pela reflexão,...” Nada mais justo, que tal leitor desenvolva o seu veio criativo e generoso ao realizar a leitura dessa e de outras poesias.

Assim sendo, que fique pra todos os leitores, essa possibilidade de aventurar-se num profícuo, mas nem tanto fácil, que é o ato de ler. Ótima Leitura!




sábado, 17 de setembro de 2011

JP



Doce e querida, JP!
Fazes 426 anos
És encanto e, também, parte do meu mundo
Quero dizer-te o quanto te amo
Doce e querida, JP!
A cidade toda em festança
Não há como deixar fora a Festa das Neves
As pessoas em folia; leves
É a celebração profana.
A cidade toda em festança
Lá na capela central, o pessoense em contrição
É o lado sagrado
Os católicos pedem a Deus proteção
Tudo na mais pura devoção
426 anos de história e galardão.
JP, querida tu és minha maior afeição!
Faço minha homenagem com emoção
A minha terra natal aniversaria
São 426 anos de história
Ninguém faz 426 anos todo dia!
Portanto, quero festejar
Faça-me um favor, curta sem parar
Parem de ser arigó
Ninguém faz 426 anos todo dia!
Os habitantes de JP só têm a ganhar
Fiquem espertos, e na paz
Vou me fazer loquaz:
Que senhor aniversário!
Temos mais que apagar as velinhas
Vige Maria!426 velas!Haja fôlego!
Aniversário pra quase 500 anos!

João Pessoa 422 anos

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Divina Natureza



Eu sou aquela fonte
Que vai, tão triste, a chorar
Desço a encosta do monte
Corro à procura do mar.

Nada me faz imaginar
Em que paragens hei de parar?

Quando avisto o mar
A emoção é tamanha
Choro muito mais ainda
Pois encontrei meu lugar.

Sei que aí tenho o meu porto seguro
Dar inté vontade de cantar
Adrenalina pura
O encontro de nós dois, me cura.

Penso cá comigo
Por que essa paixão?
Pura emoção
Beijá-lo, à noite, é divino e as estrelas brilham 
                                                                   {contigo.

O seu gostinho salubre
O seu abraço quentinho
O seu hálito morno
Sabor de algas marinhas.

Extasia-me com seu amor
Contagia-me com seu fervor
Faz-me arder
Com seu torpor.

Nada me faz imaginar
Em que paragens hei de amar?

Fico perplexa
Não sei de mais nada
Sou muito feliz
Sinto-me por demais realizada!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Junho mês de muita festa




Mês dos Santos, Antônio, João e Pedro
Mês da pamonha, canjica e pé-de-moleque
Mês das férias do colégio
Mês de adivinhações.

Ô, mês abençoado!
Que todos os meses fossem como esse!

Um mês tem sempre trinta dias
Poxa!  Queria que junho não findasse
Ficasse por mais uns seis meses
Então, já teríamos dezembro.

Mês das festas Natalinas
Mês do nascimento de Jesus
Mês do Reveillon
Mês da champanhe.

Ô, mês divino!
Que legal seria que também não acabasse!

Um mês é sempre o mesmo
Mas, junho é diferente 
Quanta ostentação na mesa e no folclore!

Mês de frio e do quentão
Mês de soltar rojão
Mês do Forró Maior do Mundo
Mês de folia de rua.

Ô, mês dos Anjunhos!
Que maravilha ser filho Brasillius!

Um mês como esse...
Somente fevereiro, por causa do Carnaval
Portela, Beija-flor e Mangueira
Oia nós com samba no pé!

Mês é mês, não importa se é esse ou aquele
Mês, que te quero mês!
Mês a mês somos fera!
Mês de toda galera brasileira. 

Banditismo no interio paraibano




Não há mais paz pro interiorano
Bandidos aterrorizam em todas paragens
Não existe vilarejo que não seja invadido
As famílias não sabem mais o que fazem
O caos é generalizado.

Pessoas humildes são maculadas
O banditismo arrasa sem dó nem piedade
Casas são saqueadas
Dinheiro, eletrodoméstico, o que houver
Eles levam de tudo
Deixam apenas os coitados com a roupa do couro
Coitaaados! A roubalheira não tem fim!
Encapuzados espalham o terror por onde passam.

Êta, su minino!
Não tem Pe. Cícero que dê jeito
O ranger de dentes foi decretado a ¾
É de dar dó
Parece mais pesadelo;nem acredito
A farra é grande
E o chororô maior.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011




RESENHA:  O MITO SALOMÉ



A DANÇA DE SALOMÉ
na Literatura e nas Artes
Autor: Jeová Mendonça
Ed. Idéia
João Pessoa - 2009


A Dança de Salomé, na literatura e nas artes, de Jeová Mendonça, nos mostra como esse mito foi ricamente explorado nas diversas artes. Entretanto, o objetivo do autor foi apenas analisar o mito Salomé sobre o prisma da peça de Oscar Wilde, intitulada “Salomé” (1893) e o filme “A Última Dança de Salomé” (1987), produzida e dirigida por Ken Russel.
O primeiro acesso que se tem a Salomé data dos registros dos evangelhos de São Mateus cap. XIV vs. 1-12; e de São Marcos, até bem mais detalhado, cap.VI vs. 14-29 (onde se encontra denominada como a filha de Herodíades, esposa de Herodes) que, incentivada por sua mãe, dança para Herodes em troca da cabeça de João Batista.

Resgate do mito Salomé em Mateus – cap. 14 1-12
         O Banquete da morte – Naquele tempo, Herodes, governador da Galileia, ouviu falar da fama de Jesus. Disse então a seus oficiais: “Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.”  De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e coloca-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão. Porque João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com ela.” Herodes queria matar João, mas tinha medo da multidão, porque esta considerava João um profeta.
Quando chegou o aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou a Herodes. Então Herodes prometeu com juramento que lhe daria tudo o que ela pedisse. Pressionada pela mãe, ela disse: “Dê-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista.” O rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela, e mandou cortar a cabeça de João na prisão. Depois a cabeça foi levada num prato, foi entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o cadáver e o enterraram. Depois foram contar a Jesus o que tinha acontecido.

O estudo, em foco, é baseado nas teorias da “escola semiótica russa”, em nomes como: Yuri Lotman, V. V. Yvanov e B. Vspensky; como também, entre outros teóricos da paródia, como: Linda Hutcheon, Margaret A. Rose e A ffonsonso Romano de Sant’Anna. Com reflexões a partir da peça Salomé, de Oscar Wilde, ed. Inglesa da Dover Publications, Inc. de Nova York de 1967; e a confrontação do filme de Ken Russel, em inglês, Salome´s Last Dance.

        “Meu Herodes é como o Herodes de Gustave Moreau, envolto em suas joias e tristeza. Minha Salomé é uma mística, irmã de Sammbô, uma Santa Tereza que cultua a lua.” Beardsley

“...os dois modos como o texto de Wilde e o texto de Russel são constituídos: enquanto o primeiro dilui o evento Festim com outros intertextos, alterando-os, atualizando-os e ampliando-os; o segundo apenas parece se conformar a uma citação direta deste  primeiro texto, preocupando-se apenas em delimitar a linha entre discurso citado e discurso citante.” (p. 220)

_
“O próprio bordel/teatro representa todas as possibilidades dessas relações “clandestinas”. Mas, digamos que a dança de Wilde é o que revela de mais explícito nesse tipo de relação e, por isso também, é provocadora e desafia convenções sociais sublinhadas pela intolerância arraigadas até hoje.
Uma dança com passos de ironia assim encenada vem endossar o que diz Hutcheon “...a ironia pode e realmente funciona taticamente a serviço de uma larga extensão de posições políticas, legitimando ou minando uma grande extensão de interesses.” (1995) / (p.254)

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“Para nós, leitores e espectadores, o ato de ver e complementar um sentido da dança de Salomé parece se fazer subordinar, dentro desse filtro metalinguístico (literatura e cinema), aos olhares de Herodes e “wilde”, que, em último caso, são também os olhares de Oscar Wilde enquanto dramaturgo, e de Ken Russel enquanto cineasta. No entanto, as leituras, quer de Wilde, de Russel e as nossas próprias leituras são parciais e complementares em relação à Salomé e sua dança.” (ps. 258-259)

Por fim, destaco assim a passagem que expõe a crítica à peça de Wilde no The Times; considera Salomé “um arranjo de sangue e ferocidade, mórbido, bizarro, repulsivo e muito ofensivo em sua adaptação da fraseologia bíblica para situações, o oposto do sagrado.” 
Findo, então, dizendo que não deixem de ler tal obra, pois o veredicto dos senhores é de suma importância. Bom discernimento e ótimo feedback. 



A Rede patrimônio cultural dos nordestinos




A Rede é pra namorar
E pra relaxar.

A Rede é pra embalar neném
E marmanjo também.

A Rede é nosso patrimônio cultural
E isso nos faz muito bem.

A minha Rede é o meu xodó
Tenho mais ciúme Dela do que da Dodó.

Uma Rede no meu quarto
Suspiros dobrados.

Garoto de calça curta ou homem barbado
Embala-se Nela, pleno de esperança.


Índio quer apito




Todo dia é dia de índio em Jampa!As nossas sestas são feitas, na manha, numa rede; o feijãozinho só vale, se misturado com uma deliciosa farinha; gostamos da orla, damos sempre nossas  passeadinhas; não esquecemos, na rotina diária, do pescado, da orelha furada, de pintarmos as unhas e os cabelos. Eu quero mesmo esses índios chupando manga; prá índio falta só o abacaxi!Ah, índio não gosta de ananás? Então não farta nada, nadinha!Porém, todo dia é dia de índio em Jampa! Faço um bobó de camarão com muitos ingredientes gostosos e dou cor com açafrão; não deixo de cozer uma macaxeira molinha e fazer um bom pirão. Tenho que ter muita inspiração na hora de comer e dividir a tapioca com os indinhos. Irmãos de fé, de moleza e de tesão. De ser e de não-ser. Há muitas coisas que fazem nossa comunhão. Acompanhem meu raciocínio: Essa raça muito esquecida faz parte de nossa colonização. Ela não quer apito, quer mais é qualidade de vida. Conforto, alimentação, educação e também consideração prá seus filhos. Saibamos compartilhar com essa gente renegada. Não sejamos ingratos com quem mais nos presenteou com seus dons e bens. Ganhamos desde as raízes, o desprendimento, as lendas, o folclore, a gastronomia, ou melhor, muitas coisas foram deles absolvidas na nossa vida. Não podemos ser um povo sem memória; precisamos dar valor prá sentirmos dignidade e justiça da nossa história. Essa gente desde sempre foi marginalizada. Preenchamos logo esse parêntese! Chegou a hora! Façamos a esses irmãozinhos o que eles nos fizeram, deram-nos a vida sem nada pedir em troca. Sua generosidade foi tamanha que os séculos se passaram, e nada nosso exigiram. Chegou nossa hora! Minha gente, façamos nossa parte! Pois todo dia é dia de índio em Jampa!Os índios precisam urgentemente ser reconquistados por nós!

Transposição do Velho Chico




Ah, Seu Chico!
Só tu serás a redenção dos desesperados da seca
Rio – Glória e bênção – Coluna Vertebral do Brasil
Salvação de muitos flagelados nordestinos.

Oh, São Francisco!
Tu estás sendo transportado
A despeito do coronelato rural
Que só pensam nos próprios umbigos.

Sonho acalantado há muito por nossa gente
Ter água na torneira
Fartura no pote, a quartinha fresquinha
Sinal de vitória do povo sertanejo.

São Francisco, meu Chico!
A população festeja a tua doação
Somente assim para sair da sequidão
Fazendo a todos chorar
De tanta emoção.

Inté a própria Iemanjá
Sairá das águas
Baterá palmas ao ver a água jorrar
Quando o sertão virar mar!

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCOSCO 1

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Outros paradoxos




O homem é terrível
Não sabe viver em paz
Vive criando história
Porém nunca se satisfaz
Depois de ir à lua
Quis ir muito mais
Inventou o Genoma
Para não morrer jamais.

Como se fosse Deus
Quis ser eternizado.

Para onde as coisas caminham?
Ninguém sabe
Eu menos ainda
Estou apenas especulando
Fico somente imaginando
Como será daqui prá frente
O planeta se transformando
Numa ficção científica
Que eu nunca aprendi a gostar
Pois é muita loucura
O homem pondo o mundo de perna pro ar.

Em minha cabeça
Uma única coisa é certa:
Não existe freio
Prá se parar trem desgovernado
O homem não tem limites
E se  tornou o seu próprio refém.

RESENHA: O BERRO DO POVO NORDESTINO


BERRO NOVO, DE JESSIER QUIRINO
EDIÇÕES BAGAÇO
2009 

A obra Berro Novo, de Jessier Quirino, é o que há de mais bonito na literatura paraibana. É, literalmente, um “deboche”, bem humorado, às coisas, pessoas, e à vida nordestina.

O autor usa e abusa da paródia nos seus textos. E, por isso mesmo, o leitor, ao lê-lo sente toda a conotação burlesca. Não se tem como não achar graça com a leitura de Berro Novo! O Berro da graça, do riso, da alegria. O “Berro Novo” é terapêutico. Existe coisa melhor em nossos dias? Dias estressados com toda a famigerada vida moderna. Onde as pessoas se brutalizam dia a dia? Onde as pessoas se matam a três por quatro, como se a vida humana valesse menos do que casca de banana? Onde a violência cresce ao ritmo da velocidade da luz?



“E não podemos admitir que se impeça o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico como qualquer outra série de idéias e atos humanos.” Antonin Artaud

“Poesia dita, escrita e musicada” afeita àqueles que estão no limite das suas desgraçadas vidas.
Em:
         A Taba de Sarvação
Meu cumpade, o que eu escuto
Derna de pequenininho
É que o Brasil brasileiro
Pra sair do atoleiro
Tá faltando tanto assim.
                          (p.44)
...
Fim das esculhambação!
Credo-cruz, Ave-Maria!
Isso quase todo dia
Enche o saco, meu patrão
Já que a gente não tem vez
Empurre no de vocês
A Taba de Sarvação.
                             (p.47)

Nesse “Berro” tem de um tudo. Num farta nada, nadica de nadica. Tem inté uma prova parciá do autor Gesso Quirino, datada de 1962, onde mostra que o mesmo era bom nos estudos, no Instituto Domingos Sávio em Campina Grande, a sua terra Natá. Mas, o que dá até vontade de Berrar são seus versos dedicados  à sua mestra Maria da Glória e a sua diretora Maria Terezinha.
         Merenda Corriqueira
Ah, se minha aula retornasse
Pro giz da minha infância
Pro meu caderno encapado
E o meu nome escancarado:
EU, Primeiro ano A.
Ah, Primeiro ano A!

A professora: “Bom-dia!!!”
A bolsa, a banca, a folia
A turma do dia-a-dia
A lei da Diretora
A sineta, a correria
A hora de merendar...
                               (p.31) 


A narrativa faz a gente viajar no tempo e no espaço. Lembrei-me do tempo que estudava no Grupo Santa Júlia. Ah, tempo bom! Minhas professoras, mas especialmente dna. Maria Luíza. Pois não é que na hora do recreio, ela fazia os alunos ficarem lanchando na sala pra me ouvir cantar!

De uma linguagem tão regionalista, que não tem como não identificar de imediato, de qual rincão se está falando e representando. Um dialeto peculiar do matuto nordestino; de ritmo e beleza ímpar. Que encanta a quem escuta e/ou lê.

Vê-se então:
  Ô cumpade véi          
  O Riacho do Navio não corre pro Pajeú?
  O Rio Pajeú não despega no S. Francisco?
  E o Rio São Francisco
  Não bate no mei do mar?
                                        (p.25)
De cabo a rabo, a obra é encantamento. Desde da capa, com o Pau do Fuxico, o título Berro Novo até o próprio “Berro” que chega aos nossos tímpanos. 
Nós, leitores, estamos deveras de P A R A B É N S com esse lindo presente de Deus! Que Jessier Quirino tenha muita força na guela pra berrar quanto queira!