RESENHA: O MITO SALOMÉ
A DANÇA DE SALOMÉ
na Literatura e nas Artes
Autor: Jeová Mendonça
Ed. Idéia
João Pessoa - 2009
A Dança de Salomé, na literatura e nas artes, de Jeová
Mendonça, nos mostra como esse mito foi ricamente explorado nas diversas artes.
Entretanto, o objetivo do autor foi apenas analisar o mito Salomé sobre o
prisma da peça de Oscar Wilde, intitulada “Salomé” (1893) e o filme “A Última
Dança de Salomé” (1987), produzida e dirigida por Ken Russel.
O primeiro acesso que se tem a Salomé data dos
registros dos evangelhos de São Mateus cap. XIV vs. 1-12; e de São Marcos, até
bem mais detalhado, cap.VI vs. 14-29 (onde se encontra denominada como a filha
de Herodíades, esposa de Herodes) que, incentivada por sua mãe, dança para
Herodes em troca da cabeça de João Batista.
Resgate do mito Salomé em Mateus – cap. 14 1-12
O
Banquete da morte – Naquele tempo, Herodes, governador da Galileia, ouviu falar
da fama de Jesus. Disse então a seus oficiais: “Ele é João Batista, que
ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.” De fato, Herodes tinha mandado prender João,
amarrá-lo e coloca-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a mulher do
seu irmão. Porque João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com
ela.” Herodes queria matar João, mas tinha medo da multidão, porque esta
considerava João um profeta.
Quando chegou o aniversário de Herodes, a filha de
Herodíades dançou diante de todos, e agradou a Herodes. Então Herodes prometeu
com juramento que lhe daria tudo o que ela pedisse. Pressionada pela mãe, ela
disse: “Dê-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista.” O rei ficou triste,
mas por causa do juramento na frente dos convidados, ordenou que atendessem o
pedido dela, e mandou cortar a cabeça de João na prisão. Depois a cabeça foi
levada num prato, foi entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos
de João foram buscar o cadáver e o enterraram. Depois foram contar a Jesus o
que tinha acontecido.
O estudo, em foco, é baseado nas teorias da “escola
semiótica russa”, em nomes como: Yuri Lotman, V. V. Yvanov e B. Vspensky; como
também, entre outros teóricos da paródia, como: Linda Hutcheon, Margaret A.
Rose e A ffonsonso Romano de Sant’Anna. Com reflexões a partir da peça Salomé, de
Oscar Wilde, ed. Inglesa da Dover Publications, Inc. de Nova York de 1967; e a
confrontação do filme de Ken Russel, em inglês, Salome´s Last Dance.
“Meu
Herodes é como o Herodes de Gustave Moreau, envolto em suas joias e tristeza.
Minha Salomé é uma mística, irmã de Sammbô, uma Santa Tereza que cultua a lua.”
Beardsley
“...os dois modos como o texto de Wilde e o texto de
Russel são constituídos: enquanto o primeiro dilui o evento Festim com outros
intertextos, alterando-os, atualizando-os e ampliando-os; o segundo apenas
parece se conformar a uma citação direta deste
primeiro texto, preocupando-se apenas em delimitar a linha entre
discurso citado e discurso citante.” (p. 220)
_
“O próprio bordel/teatro representa todas as
possibilidades dessas relações “clandestinas”. Mas, digamos que a dança de
Wilde é o que revela de mais explícito nesse tipo de relação e, por isso
também, é provocadora e desafia convenções sociais sublinhadas pela
intolerância arraigadas até hoje.
Uma dança com passos de ironia assim encenada vem endossar
o que diz Hutcheon “...a ironia pode e realmente funciona taticamente a serviço
de uma larga extensão de posições políticas, legitimando ou minando uma grande
extensão de interesses.” (1995) / (p.254)
_
“Para nós, leitores e espectadores, o ato de ver e
complementar um sentido da dança de Salomé parece se fazer subordinar, dentro
desse filtro metalinguístico (literatura e cinema), aos olhares de Herodes e
“wilde”, que, em último caso, são também os olhares de Oscar Wilde enquanto
dramaturgo, e de Ken Russel enquanto cineasta. No entanto, as leituras, quer de
Wilde, de Russel e as nossas próprias leituras são parciais e complementares em
relação à Salomé e sua dança.” (ps. 258-259)
Por fim, destaco assim a passagem que expõe a crítica
à peça de Wilde no The Times; considera Salomé “um arranjo de sangue e
ferocidade, mórbido, bizarro, repulsivo e muito ofensivo em sua adaptação da
fraseologia bíblica para situações, o oposto do sagrado.”
Findo, então, dizendo que não deixem de ler tal obra,
pois o veredicto dos senhores é de suma importância. Bom discernimento e ótimo
feedback.