segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Resenha: O Mar Poético de Lúcio Lins


TODAS AS ÁGUAS
InterArte Comunicaçoes
Capa: Archidy Picado Filho
João Pessoa- 2006

                                                    Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
                                                                                                  Fernando Pessoa

Livro que não poderá faltar em sua estante; isso porque o mesmo trata, de forma didática, das obras do célebre Poeta paraibano Lúcio Lins. Trabalho muito bem produzido sob a coordenação de Wanderley Farias.
Pensem num livro bom! Isso mesmo, o livro é de peso. Mostra toda a grandiosa produção literária desse Poeta, que não tenho nem palavras pra dizer tamanha a sua magnitude.
Todas as Águas é um livro composto por 206 páginas repletas da verve criadora de Lúcio Lins.
Divide-se em:
I)O primeiro livro, publicado em 1982 pela editora Universitária, traz como título: lado que cavo que covas; refere-se ao seu poema da página 27.

Veja:
quando de um lado
cavo
de um outro
covas
é no cimento armado
armando
a arquitetura prolixa
de não sobre sim sobre não
quando de um lado
cavo
covas
de um outro

São 55 páginas de imaginação e inspiração.

Vê-se em:
Exércicio Agrícola
acerca
de mil anos
estamos nos
cercados
calo na mão
a enxada
e a par
do que cava
de terra
o piso
e piso
na terra (pg.32)

Pouco mais de sua inventiva criação:
Paralelo
no sentido lato
entre os cães de rua
sob o pelo menos
morder a óssea vida
agitando a cauda
do não
ou sim
ser meu animal
mais amigo homem

II) Já em ‘As Lãs da Insônia’, segundo livro, publicado em 1991, pela editora Ideia Ltda., o poeta mostra-se apaixonado.

Observe:
da musa
são coisas tuas
os meus pertences
do espelho ao pente
- tudo com que faço
formas
meu
assanhar teus cabelos
deixando a rima
solta ao vento
meu
alinhar tuas palavras
frente ao espelho
de um novo espelho
é coisa tua
colocar-me
entre teus parentes (pg. 83)

Também no poema abaixo, a paixão é recorrente:
fóssil
quantos marinheiros
fizeram a pedra
do meu porto
hoje náufragos
fazem a lápide
do meu corpo
sou um porto de emoções
o cais (meu coração)
tem outra história ancorada

III) Perdidos Astrolábios, o seu terceiro livro, editado pela Universitária, datado de 1999, com 38 páginas do universo aquático, tem como texto inicial ‘Diante D’Rei’- é um poema de caráter dramático. São as falas de 10 náufragos.
(O Mar é tipo uma obsessão)

Observe em:

Memória das águas
Para Adeildo Vieira
sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal
sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o barulho nas ondas
uma linguagem lusitatana
sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras (p.112)

Ainda o Mar:
O velho e o Mar
Para Edônio Alves do Nascimento
E Milton Marques Júnior
conheço o mar
com o mar
vocabulário parco
o mar
aquém do barco
(os pulmões
superinflados
pela brisa
e a barba
de espumas e sargaços)
se me dizem
mais
me dizem búzios
que as marés
esculpem
que os mares
se ocultam
eis o mar que escuto! (p. 106)

Um Mar bem nosso:
Cabo Branco
extremo Cabo Branco

estranho trampolim
ao contemplar o Atlântico
o mar mergulha em mim (p.110)

E mais Mares dantes navegados, veja:
Águas de beber
Para Magdelaine Ribeiro
o mar
de Camões
o mar
em Pessoa (p.111)

IV) Há ainda os textos inéditos, que estão entre as páginas 131 e 150. Fora as parcerias musicais com várias personagens artísticas, como: Fuba, Byaya, Zé Wagner, Xisto Medeiros, Salvador de Alcântara, Chico Víola, Paulo Ró, Pedro Osmar, e tantos outros.

V) Depois tem ainda, os Rabiscos do poeta, as Anotações e a Memória fotográfica.

VI) Por fim, ‘O oceano de palavras em Lúcio Lins’, análise literária sobre o próprio por Magdelaine Ribeiro – Profa. de Literatura da Universidade de Bordeaux III, França.

Como se ver, o livro em foco, Todas as águas é um belo livro. E recomendo-o para aqueles que desejam ficar a par da vida e obra desse Poeta paraibano: Lúcio Sérgio Ferreira Lins.
Façam um excelente proveito!

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