quarta-feira, 11 de julho de 2012

Resenha: O Homem é o que escolhe ser



QUOTIDIANO, do escritor Jorge Mariano Alves
Ideia  -  João Pessoa/2004


Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.
Cecília Meireles

Não dá pra não gostar da poesia do poeta Jorge Mariano. Poeta nascido no município de Bananeiras, Paraíba, no ano de 1947. Quotidiano é um livro que faz (o leitor) pensar que nem tudo está perdido nesse mundo. Exige-lhe, ainda, que o faça, tipo de cabeceira, já que além dele ter um fluxo temático muito prazeroso; é daqueles que jamais se encontrará em uma prateleira, pois essa obra é como uma fruta saborosa da qual quem a chupa, ficará literalmente com água na boca; com aquele gostinho de quero mais.

Q u o t i d i a n o, de Jorge Mariano Alves
Está muito imbricado no leitor. Uma, porque tal poesia é rica de detalhes, descrições, cenários do cotidiano de toda e qualquer pessoa humana; fazendo-a, portanto, visualizar justamente o que o autor pretendeu passar. Outra, porque faz encontrar-se, de mansinho, o porto seguro que é o viver a família e os amigos, coisa rara pra muitos; por causa justamente de um quotidiano tão opressor na correria diária nos dias atuais.
O referido autor traduz uma mente poderosa, livre das maldades do mundo que o rodeia; mesmo ele sendo sobrevivente de um mundo caótico, cheio de tudo quanto é mazelas, tais como: indiferença de amigos, traição, aflições de toda sorte, a morte do pai, da mãe, e a insensatez de alguns, opta em cantar a generosidade do coração humano. O texto retrata, com toda meiguice, o poder do amor à vida da lira do poeta em voga.
Vê-se:
“E é enfrentando toda fúria da procela/ Que a gente sente como a vida é bela/Ao surgimento de uma nova calmaria!”(p.39)
O autor escreve belamente. Os versos acima são uma pequena amostra da riqueza que se tem ao ler Quotidiano. O eu-poético se transborda nos suaves versos de um soneto, trova, quadra etc. A catarse é-se mister! Tudo muito na formalidade, reforçando o peso das palavras. Palavras essas de um estilo eloquente, próprio de grandes nomes da literatura brasileira. Assim como um Carlos Drummomd de Andrade, Mário Quintana, Cecília Meireles e tantos outros.
A obra, enfocada, além de introduzir o poeta no mundo das letras, mostra que o mesmo veio pra ficar. E, também, que a sua poética é um caleidoscópio de afetividade à flor da pele; recheada de uma dose substancial de doçura e carinho. Reflete, por conseguinte, toda a força de sua imaginação, da qual brotam versos de fontes heterogêneas, e das mais distintas experiências íntimas.
Como disse Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
Jorge Mariano vai até mais além nos versos abaixo:
“Se o homem tem uma meta,/ Seguindo por linha reta,/ Consegue o que for preciso;/ Como tudo é ilusão,/ Poderá a decepção/ Deixá-lo  um pouco indeciso./...Mas é preciso lutar,/ Com vontade de ganhar,/ Ou só pra competir./ Pois quem sabe assim não fizer,/ Não sabe que a vida o é,/ Não pode a vida sentir.”(p. 118)
Os sonetos, sextilhas, quadras, trovas traçam bem o perfil de romantismo, apresentado no que dita os sentimentos, legitimado no ritmo do pulsar de um coração forte, generoso; de onde, inclusive, pulula o belo de sua obra, que tanto afaga a alma humana.
“Quando alguém que a gente ama,/ Parte e deixa aquela chama/ Surpreendente da saudade:/ O que se chama beleza/ É transformada em tristeza/ Que ao coração nosso invade!”(p.89)
Marca, então, seu peculiar estilo nos versos:
“Entre morte, nascimento/ Formatura, casamento,/ Um e outro aniversário/ E outros eventos da vida:/ Com a família querida/ Vou preenchendo o meu diário.(p.92)
A linguagem metalinguística, dos versos seguintes, cala fundo naquilo que o escritor Jorge Mariano é Mestre: os sentimentos do âmago. Aliás, essa é a máxima de todo bom poeta, concebida pelo próprio:
Verifica-se:
“Poesia é sentimento/ Que emana de dentro d’alma,/ E é expresso num momento/ De reflexão e calma;/ É a fórmula perfeita/ Que todo poeta receita,/ Para afugentar os traumas.”(p.115)
Por fim, pode-se dizer que a poesia do paraibano Jorge Mariano Alves é o que se tem de mais autêntico e original em meio à profícua literatura do nosso estado para deleite de todos que apreciam um bom livro.
A preciosa obra poética Quotidiano fica aqui mais do que recomendada!

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