terça-feira, 11 de dezembro de 2012

RESENHA: Olha, o papa-figo!



O Sacrifício dos Anjos
Romance de Tarcísio Pereira
Imprell Editora/ 2008
260p.


“Uma vaca de costelas exposta entrou no casarão da fazenda e comeu o divã da sala, um armário colonial e um bebê com sete meses de vida que dormia num berço de jacarandá”. p.9

O ano 2012 se esvai. As festas de final de ano se prenunciam. O clima festivo já é visto por toda cidade. As pessoas se exasperam nas compras. A gula à mesa, como de costume, já é esperada. Muitas pessoas exageram tanto que chegam a engordar 10kg ou mais. Daí, haja academia, dietas, caminhadas, às vezes, a faca é necessário pra se safarem de toda banha adquirida na comilança de final de ano. Então, uma boa dica pra ficarem de boca fechada é a leitura desse romance, porque é tão envolvente que quando se lê, não se pensa em mais nada. É um texto que prende por suas intrigas escabrosas, criminalidade, seita macabra, contravenção de leis, tortura e matança de crianças. Tudo isso e mais, é entremeada pela história assombrosa do papa-figo. No folclore brasileiro, o papa-figo é um homem com um grande saco nas costas que come fígado de crianças pra cura da doença da lepra.     
O Romance “O Sacrifício dos Anjos”, de Tarcísio Pereira aborda essa temática de assombração; muito explorada num tempo nem tão remoto assim. Quem não se lembra que o pai e a mãe pra conseguir do filho obediência, pra não sair de casa por exemplo, o amendrontava, falando-lhe  do papa-figo? Pelos idos dos anos 60, eu e a molecada da Rua Aragão e Melo no bairro da Torre sempre nos aterrorizávamos com um homem esquisito, que tinha um braço pra dentro do paletó que mendigava pelas portas; pra nós, garotas e garotos daquela redondeza, ele não passava de um papa-figo. Era comum ouvir alguém gritar: _ Olha, o papa-figo! Às vezes, os gritos eram acompanhados de apedrejamento. Lembro-me também que final dos anos 70, tempo em que estudava no Anita Cabral, em Campina Grande, falava-se muito de um papa-figo que atormentava as crianças campinenses. 

Confere-se in loco:
“...poderiam curtir os frutos do descanso e o sabor  da festa, os estragos da cama e o paladar do churrasco, as loucuras do sexo e comilança do fígado...” p.28

“...mas o papa-figo que viera das trevas  para levar um menino de oito anos de idade.” P. 85

“...No desespero da pressa, só conseguiram duas crianças  miúdas, pois a terceira  tinha seios nascentes e isto indicava que já era mulher...” p. 137

Por conseguinte, resta-lhe, leitora, usufruir bem dessa leitura, se não quiser entrar em desespero com o pecado da gula: comestível, e pior, do consumismo exasperado; e ainda  tudo pago no cartão de crédito, o bicho papão atual.  

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