quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Suicida



Mais um dia comum na casa do Senhor Genival   
Sr. Genival: Eu só tenho sessenta anos. Mas, se daqui há algum tempo, eu não tiver condições de tomar de conta de mim mesmo, não ficarei nenhum minuto nas mãos de filho! Eu me mato.
Zequinha (filho que ainda visitava o pai; de quatro filhos):Mas que besteira, meu pai! O Sr. está tão novo, tinha mais que arranjar um novo amor. Sair, passear, ir à praia.
Sr. Genival: Eu não! Minha vó já dizia que bom José faz, que em sua casa tá em paz. Vou sair pra quê? Não perdi nada na rua.
Zequinha: Meu pai, o Sr. ainda é novo. Eu sei que o Sr. e a mãe sempre foram muito caseiros. Mas, se a mãe já não tá mais com a gente...o Sr. tinha mais que sair; se distrair. A vida continua, Seu Genival.
Sr. Genival: Filho, eu sei da minha vida! Cuide de sua vida, e deixe que eu cuido da minha!
Zequinha: Pai, eu só quero o seu bem! Quero só ajudá-lo.
Sr. Genival: Eu sei. Fique tranquilo! O seu velho pai está bem; não tem que se preocupar com nada.
Zequinha: Estou tranquilo, mas é que esse modo de viver solitário não lhe faz bem. E isso me preocupa, pai.
Sr. Genival: Já falei que quem sabe da minha vida sou eu!
Zequinha: Tá bem, meu pai!

Cinco anos depois
Sr. Genival: Filho, cadê meus óculos?
Zequinha: Pai, os óculos estão na sua cabeça.
Sr. Genival: Essa agora! Estou ficando velho mesmo!
Zequinha: Pai, vamo almoçar fora hoje?
Sr. Genival: Pra quê? Eu não. Prefiro comer meu feijãozinho aqui em casa mesmo.
Zequinha: Vamo sair um pouco? Só vai lhe fazer bem!
Sr. Genival: Já lhe disse que não!

Dias depois
Zequinha: Pai, pai, o Sr. está dormindo ainda essa hora? Acorda, pai! Pai, pai, pai...

(O Sr. Genival havia tomado todo vidro de estricnina; suicidou-se. Seu Genival sempre falava que jamais ficaria nas mãos dos filhos; ele achou melhor dar cabo da própria vida. Pra uns, heroísmo; pra outros, covardia. Eu ainda hoje, após cinquenta anos, guardo na memória aquela infeliz cena. Meu pobre vô, tão novo, gordo e corado ali naquele caixão. Meu querido vô paterno morto;  parecia que estava apenas dormindo.)
  

fim 

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