segunda-feira, 19 de setembro de 2011

RESENHA: Pavão Misterioso

RESCALDO, de José Bezerra Cavalcante
Editora UFPB
João Pessoa – 2011


José Bezerra Cavalcante nasceu em Esperança/PB
em 30/06/1940. Participou ativamente do movimento
litero-artistico Geração 59.
Escreveu sua primeira obra em 2009, Baú de Lavras, 
por ocasião do cinquentenário da Geração 59.

                                                                
O que dizer sobre a obra Rescaldo, do escritor José Bezerra Cavalcante?
Iniciando pelo título:
Rescaldo, conforme o Aurélio, significa: calor reverberado pelo incêndio
ou fornalha.
E pelo texto que dá nome à obra:
Rescaldo
“Vereis, enfim, os meus fundantes idos
foram tão pelo tempo carcomidos
que após nenhuma chuva e grã queimada
jazem rescaldos d’ontens, por si cotos,
entre coivaras e tições de outrora.
E que sob céu assim, de todo cinza
sigo beirando esse borralho túmido,
com pés doídos, pelo opaco afora.” (p.21)

De cara, vê-se toda a sofisticação no uso metafórico; caracterizando, portanto, uma linguagem hermética, densa, e excêntrica. Como o próprio autor, em suas notas, fala “a palavra quase sempre assume um sentido-alvo”. E mais além o mesmo define: “Poesia é a ante – e a retroface, a sobre – e a infraface da realidade objetiva...” Depois, o autor finaliza “teimo em poetar, isto é, praticar o modo infinitivo de poesia; de preferência, recompondo retalhos de antanho, uma vez que poetar sobre o passado é como manipular o tempo.”

Sua poética é plena de erudição; discurso cheio de torneios linguísticos, jogos vocabulares, cadência, concisão etc., bem ao gosto dos pós-modernistas, ou mais precisamente dos (neo)barrocos. Veja-se em Mareo:
Esse sol sem sombra
me tosquia o rumo,
me semeia mangue,
me derreia o prumo,
me vadia exangue
e transluz o sumo
do meu próprio sangue.(p.23)

Sarduy (1972) define o barroco não só como um período específico da história da cultura, mas como uma atitude generalizada e uma qualidade formal dos objetos que o exprimem;...”

A Poética, de José Bezerra Cavalcante, remete o leitor a essa crença diante de textos tão bem costurados e lapidados; em que sua poesia-objeto infere ímpar repensar.

Para Sarduy também, “a leitura é um ato de enfrentar e resolver os problemas das anamorfoses, forma natural embora distorcida pela reflexão,...” Nada mais justo, que tal leitor desenvolva o seu veio criativo e generoso ao realizar a leitura dessa e de outras poesias.

Assim sendo, que fique pra todos os leitores, essa possibilidade de aventurar-se num profícuo, mas nem tanto fácil, que é o ato de ler. Ótima Leitura!




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