quarta-feira, 14 de setembro de 2011




RESENHA:  O MITO SALOMÉ



A DANÇA DE SALOMÉ
na Literatura e nas Artes
Autor: Jeová Mendonça
Ed. Idéia
João Pessoa - 2009


A Dança de Salomé, na literatura e nas artes, de Jeová Mendonça, nos mostra como esse mito foi ricamente explorado nas diversas artes. Entretanto, o objetivo do autor foi apenas analisar o mito Salomé sobre o prisma da peça de Oscar Wilde, intitulada “Salomé” (1893) e o filme “A Última Dança de Salomé” (1987), produzida e dirigida por Ken Russel.
O primeiro acesso que se tem a Salomé data dos registros dos evangelhos de São Mateus cap. XIV vs. 1-12; e de São Marcos, até bem mais detalhado, cap.VI vs. 14-29 (onde se encontra denominada como a filha de Herodíades, esposa de Herodes) que, incentivada por sua mãe, dança para Herodes em troca da cabeça de João Batista.

Resgate do mito Salomé em Mateus – cap. 14 1-12
         O Banquete da morte – Naquele tempo, Herodes, governador da Galileia, ouviu falar da fama de Jesus. Disse então a seus oficiais: “Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.”  De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e coloca-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão. Porque João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com ela.” Herodes queria matar João, mas tinha medo da multidão, porque esta considerava João um profeta.
Quando chegou o aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou a Herodes. Então Herodes prometeu com juramento que lhe daria tudo o que ela pedisse. Pressionada pela mãe, ela disse: “Dê-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista.” O rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela, e mandou cortar a cabeça de João na prisão. Depois a cabeça foi levada num prato, foi entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o cadáver e o enterraram. Depois foram contar a Jesus o que tinha acontecido.

O estudo, em foco, é baseado nas teorias da “escola semiótica russa”, em nomes como: Yuri Lotman, V. V. Yvanov e B. Vspensky; como também, entre outros teóricos da paródia, como: Linda Hutcheon, Margaret A. Rose e A ffonsonso Romano de Sant’Anna. Com reflexões a partir da peça Salomé, de Oscar Wilde, ed. Inglesa da Dover Publications, Inc. de Nova York de 1967; e a confrontação do filme de Ken Russel, em inglês, Salome´s Last Dance.

        “Meu Herodes é como o Herodes de Gustave Moreau, envolto em suas joias e tristeza. Minha Salomé é uma mística, irmã de Sammbô, uma Santa Tereza que cultua a lua.” Beardsley

“...os dois modos como o texto de Wilde e o texto de Russel são constituídos: enquanto o primeiro dilui o evento Festim com outros intertextos, alterando-os, atualizando-os e ampliando-os; o segundo apenas parece se conformar a uma citação direta deste  primeiro texto, preocupando-se apenas em delimitar a linha entre discurso citado e discurso citante.” (p. 220)

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“O próprio bordel/teatro representa todas as possibilidades dessas relações “clandestinas”. Mas, digamos que a dança de Wilde é o que revela de mais explícito nesse tipo de relação e, por isso também, é provocadora e desafia convenções sociais sublinhadas pela intolerância arraigadas até hoje.
Uma dança com passos de ironia assim encenada vem endossar o que diz Hutcheon “...a ironia pode e realmente funciona taticamente a serviço de uma larga extensão de posições políticas, legitimando ou minando uma grande extensão de interesses.” (1995) / (p.254)

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“Para nós, leitores e espectadores, o ato de ver e complementar um sentido da dança de Salomé parece se fazer subordinar, dentro desse filtro metalinguístico (literatura e cinema), aos olhares de Herodes e “wilde”, que, em último caso, são também os olhares de Oscar Wilde enquanto dramaturgo, e de Ken Russel enquanto cineasta. No entanto, as leituras, quer de Wilde, de Russel e as nossas próprias leituras são parciais e complementares em relação à Salomé e sua dança.” (ps. 258-259)

Por fim, destaco assim a passagem que expõe a crítica à peça de Wilde no The Times; considera Salomé “um arranjo de sangue e ferocidade, mórbido, bizarro, repulsivo e muito ofensivo em sua adaptação da fraseologia bíblica para situações, o oposto do sagrado.” 
Findo, então, dizendo que não deixem de ler tal obra, pois o veredicto dos senhores é de suma importância. Bom discernimento e ótimo feedback. 



Um comentário:

  1. Resenha interessante, querida. O corpo fala,e a dança é uma das formas de expressão do corpo mais plena que existe, pois através da dança o corpo fala dos seus sentimentos e emoções. Parabéns!

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